A Jurisprudência do abraço…

Eu vivo de certezas matemáticas, de coeficientes de segurança, de garantir que as estruturas suportem o peso do mundo sem ruir. Ela vive de argumentos, de prazos, de convencer o juiz de que a razão está do seu lado. Eu projeto; ela peticiona. Somos vizinhos de porta e, agora, inquilinos um da vida do outro.
Dizem que os opostos se atraem, mas a nossa atração não foi física newtoniana, foi alinhamento de almas. E como engenheiro que sou, diante de tanta subjetividade, senti a necessidade de colocar ordem na casa — ou melhor, nos apartamentos.
Ontem, sentei-me para redigir o documento mais importante da minha carreira. Não era um projeto mecânico, nem um laudo técnico. Era um “Contrato de Vinculação Afetiva”. Afinal, se ela é a “Defensora dos Meus Sorrisos”, eu precisava oficializar meu cargo de “Engenheiro do Coração Dela”.
Olhei para o papel e percebi que a lógica fria não cabia ali. O café, por exemplo. Em nossa “legislação” interna, ficou decretado: ele deve ser preto, forte e estritamente sem açúcar. A vida, concordamos em cláusula pétrea, já tem que ser doce pelos beijos trocados. Qualquer tentativa de adoçar a bebida seria uma violação grave, passível de punição severa — uma bateria de beijos corretivos, aplicados sem direito a recurso.
Mas foi na “Cláusula da Segurança” que a minha engenharia falou mais alto. Estabeleci o “Abraço de Retaguarda”. Não é apenas um gesto romântico; é uma estrutura de contenção. Quando a abraço por trás, envolvendo-a completamente, estou criando uma barreira física contra as intempéries do dia a dia. Ali, naquele espaço confinado entre meus braços, ela está segura. É o meu jeito de dizer, sem usar palavras, que sou o suporte incondicional, o alicerce que não trinca, seja nos dias de sol ou nas tempestades emocionais que a advocacia traz.
Ela riu quando leu sobre o “Habeas Corpus do Abraço”. Dei a ela trânsito livre e julgado para se refugiar em mim a qualquer hora da madrugada. E, em troca, exigi exclusividade de pensamentos e a manutenção preventiva do nosso “nós”.
O mais curioso? Eu, que passo o dia calculando forças e vetores, não encontrei fórmula capaz de medir a sorte de tê-la a poucos metros de distância. A logística facilita, mas a saudade ignora a planta baixa do prédio.
Ao final, não assinamos com firma reconhecida. A validação se deu no foro privilegiado do nosso corredor, selada com um beijo que, segundo a minha análise técnica, teve a pressão e a temperatura ideais para fundir dois materiais distintos em uma única liga inquebrável.
O contrato diz que ela é a mulher mais linda e sexy do meu mundo. E contra fatos — e contra esse amor — não há argumentos jurídicos que prosperem.

Jeff Ribeiro, poeta e escritor

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