A nossa guerra de todos os dias
Há praticamente 2 meses temos acompanhado diariamente notícias sobre a guerra travada entre a Ucrânia e a Rússia, somos bombardeados por informações sobre o conflito a todo momento, algumas mídias mantêm o foco somente nisso, alardeiam sobre o número de civis mortos, os números de refugiados. Todas as atenções do mundo se voltam para essa batalha.
Mas chega até ser desapontante o fato de que ninguém fala sobre os assassinatos cometidos todos os dias aqui em terras brasileiras, tão mais perto da nossa realidade. É claro que devemos nos comover diante dessa triste crueldade, das tantas pessoas que foram assassinadas e outras tantas que tiveram que largar seus lares, suas vidas, para viver em um outro lugar, desconhecido, inesperado.
O que não se fala é que em 4 anos de guerra na Síria morreram 256 mil pessoas, só que em 4 anos sem guerra aqui no Brasil foram assassinadas 279 mil, sem falar que são assassinadas 170 pessoas por dia aqui, sendo que a maioria delas é pobre, preta e masculina.
A verdadeira guerra é a que vivemos aqui todos os dias, quando quase 28 milhões de pessoas lutam diariamente para ter o que comer, sobrevivendo com algo em torno de 89 a 178 reais por pessoa por mês. Ou ainda, sobre os 14,8 milhões de brasileiros que lutam todos os dias para encontrar um emprego e assim poder ter a possibilidade de viver uma vida mais digna.
Para ser mais justos, vemos um dia ou outro alguma notícia falando sobre esses números que também não deixam de ser alarmantes, mas nada se compara a extensa cobertura que vemos sobre o conflito armado que está acontecendo no Leste Europeu.
Precisamos falar mais e nos comover mais diante das mazelas e conflitos que vivemos aqui diariamente, sobre as milhares de pessoas que são assassinadas todos os dias pela polícia no nosso país, sobre como podemos evitar essas mortes, sobre como cobrar providências das autoridades para resolver esses confrontos e como criar uma realidade melhor para as pessoas que vivem aqui no nosso país.
O que estamos vendo acontecer lá do outro lado do oceano, é uma disputa que atende aos interesses imperialistas de duas nações, onde de um lado está o imperialismo da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), junto com os Estados Unidos, e do outro o expansionismo defensivo do Putin, conservador, apoiado pelas oligarquias, pela antiga aristocracia, mas no final de tudo quem vai sair ganhando com esse conflito são os magnatas do trigo e do petróleo.
Enquanto isso, aqui no Brasil, sofremos com a alta da inflação, que diminui cada vez mais o poder de compra das pessoas, temos nossas reservas naturais devastadas, indígenas sendo expulsos ou abusados em suas próprias terras sem que nada seja feito pelos órgãos competentes para reverter essa situação de abandono.
Estamos em ano de eleições presidenciais no nosso país, precisamos nos envolver em nossos próprios problemas, analisar e refletir sobre o históricos e propostas de cada candidato, para que assim possamos ter um voto consciente, que foi analisado e questionado diante de todas as perspectivas que vivemos e assim lutar por uma democracia de fato, por um governo que atende aos interesses do povo e faz com que a nossa vida vida melhore assim possamos ver uma mudança efetiva em nossas realidades.
Érica Gregorio, jornalista, estudante de Sociologia, escreve periodicamente no seu blog ericagregorio.com