Amizade e Amor – uma pequena introdução
– A ausência diminui as amizades menores e vivifica as grandes, como o vento que apaga as velas e acende o fogo.
Vergílio – Poeta de Mântua
– O amor é a força que move as coisas, que as une e as mantém juntas.
Hesíodo e Parmênides – Filósofos gregos.
Amizade, amor e gratidão, é certamente, a tríade virtuosa dos mais nobres sentimentos do ser humano. Essa nobreza é de tal ordem de grandiosidade que defini-las torna-se uma tarefa que jamais será completa, mesmo porque alguns entendem que definições não explicam nada. Daí me fixarei a uma simples introdução, permitindo que o caro leitor dê asas à sua ilimitada imaginação.
Neste texto abordarei amizade e amor, deixando a gratidão para outra oportunidade. Subjetivamente falando, ambos, amizade e amor, parecem ter uma afinidade muito grande. A princípio, nada mais enganoso. Embora em alguns momentos elas se entrelacem, amizade não é amor, assim como o inverso também é verdadeiro.
Ela, segundo Aristóteles – que interessante contraditório este – é o que há de mais necessário à vida, pois todos os bens que uma pessoa possa ter em abundância de nada servirão ou não poderão ser usados se não tiver amigos. Enquanto isso, ele assevera que o amor pode ser dedicado a um semelhante como também a coisas inanimadas.
O amor pode, ao contrário da amizade, ser induzido pela sedução da beleza. A amizade, por outro lado, não. Ela não se preocupa com gênero, etnia, raça ou outros que tais, mas se manifesta entre profissionais da mesma categoria, entre patrões e empregados, nas comunidades e em pessoas afins, como pais e filhos, por exemplo.
Quando um jovem casal se apaixona e o amor explode entre eles, é interessante notar que esse amor, lenta, mas infalivelmente, com o passar dos anos, caminha para a amizade. O amor fogoso e ardente vai cedendo, paulatinamente, ao sentimento que irá sustentar a união do casal nos derradeiros anos da união.
A amizade não se sustenta no prazer como o amor, mas é fundada no bem que tem caráter sólido e indiscutível. Ambos os sentimentos, amplamente dissertado pelos filósofos gregos, os quais de modo solene lhes dedicaram parcelas importantes das suas especulações intelectuais, tomaram um sentido diferente com o advento do cristianismo, quando a intelectualidade de então passa a dedicar-se com mais ênfase a discorrer sobre o amor.
Como vimos enquanto a amizade aristotélica se embasa na seleção de especificidades, o amor pregado por Jesus Cristo é sentimento sem limites, dedicado a amigos e inimigos, isto é, ao nosso próximo.
A parábola do bom samaritano talvez seja a mais exemplar demonstração de amor. São Tomaz em suas interlocuções faz uma simbiose entre amizade e amor. Ele chama de amor intelectual (talvez devesse chamá-lo de amor espiritual), a caridade, como sendo a amizade do homem com Deus.
Neste momento São Tomaz faz o entrelaçamento do amor com a amizade, isto é, a amizade não só propondo a benevolência, mas o fazendo com o sentimento de amor, tornando-os intrinsecamente ligados.
Não obstante, os estudiosos mais modernos entendem que o amor é guiado pelos sentidos, enquanto a amizade tem no espírito sua manifestação e afirmação.
A complexidade dos dois sentimentos não pode ter uma apreciação analítica, daí porque esta é uma apenas uma pequena introdução a levar, como afirmado anteriormente, o leitor a fazer conjecturas dos seus próprios sentimentos.
Éden A. Santos
Escritor, pequeno empresário, ex-professor universitário
edensantos@uol.com.br
Perfeito !!!