Berreta: Professores acompanham alunos no Enem e comemoram bons resultados
Um gesto simples — chegar cedo, esperar, estar presente — pode, às vezes, abrir caminhos inteiros. Para muitos jovens que enxergam na faculdade a chance de uma vida melhor, esse gesto também se torna um símbolo de fé, de confiança e de pertencimento.
Há dez anos, professores da Escola Estadual Professor Antônio Berreta, em Itu, acompanham seus alunos nos dias de aplicação do Enem. A história dessa tradição começa com a professora Débora Moz, que, em 2016, orientava a primeira turma do Ensino Integral da escola na disciplina Projeto de Vida.
Naquele ano, parte dos estudantes demonstrava receio de enfrentar a prova. Durante as inscrições, Débora lançou uma proposta que mudaria a relação da escola com o exame: “E se eu fosse com vocês? Se eu estivesse lá no dia… vocês iriam?”
A resposta foi quase unânime. E assim aconteceu. No primeiro dia de prova, ela encontrou os alunos no ponto combinado e seguiu com eles até as salas. Compartilhou o momento, acalmou ansiedades, ofereceu apoio silencioso. No segundo dia, outros professores se juntaram espontaneamente — e a semente virou hábito.
Presença
Desde então, o Berreta repete o ritual todos os anos. Antes da abertura dos portões, professores e gestores se posicionam como uma pequena comunidade de acolhimento: conferem documentos, tiram dúvidas, conversam sobre a redação, lembram detalhes práticos e, sobretudo, transmitem serenidade. A prática dialoga com os princípios do Programa de Ensino Integral, especialmente com a Pedagogia da Presença e com o espírito do Projeto de Vida.
Com o tempo, o gesto ganhou força e reconhecimento. “Escolas particulares da cidade começaram a seguir este exemplo, inspiradas em nós”, conta Débora, orgulhosa do impacto silencioso que a iniciativa tem gerado.
Os resultados aparecem em números e em histórias. A taxa de participação dos alunos no Enem se mantém entre 99% e 100% a cada edição. A escola registra aprovações constantes no Sisu, Prouni e Provão Paulista. Desempenhos expressivos na redação se tornaram comuns. No último ano, uma aluna alcançou o 5º lugar no curso de Medicina em uma universidade federal.
Medicina
Mas os depoimentos dos ex-alunos falam mais alto que qualquer índice. Felipe Souza, integrante da primeira turma atendida, lembra que a presença dos professores o fez sentir-se seguro em um dos dias mais decisivos de sua vida. Na época, ele passou em Educação Física com 100% de bolsa, mas depois Ele seguiu carreira na gastronomia e afirma que a formação no Berreta foi essencial para desenvolver autonomia e clareza sobre seus planos.
Carla Beatriz, que prestou o Enem no ano passado, conta que chegou ao local, ansiosa, adiantada demais. Mas bastou ver duas professoras da escola, Débora e Cacilia, para que a respiração voltasse ao ritmo. Hoje, cursa Medicina na Universidade Federal de Sergipe.
Histórias como as de Felipe e Carla ajudam a traduzir o valor do gesto que começou pequeno, quase improvisado, mas que se firmou como tradição. No Berreta, o Enem não é apenas um exame: é um momento de presença, de cuidado e de construção de futuro.
E, ano após ano, os professores provam que vale a pena estar lá — lado a lado — quando um jovem precisa de um pouco mais de coragem para seguir adiante e percebem que os professores deixam seus lares, voluntariamente, em uma tarde de domingo, pois confiam em seus estudantes e sabem que vale a pena toda esta dedicação. E estar presente, é, realmente, o maior presente…
Foto: Professores e alunos no domingo, dia 9, na Praça do Patrocínio/Divulgação.
