Eduardo Kobra completa 49 anos e fala sobre sua trajetória

Ele é o morador mais ilustre de Itu e, apesar de manter o jeitão de menino hip hop, é quase um cinquentão. O artista Eduardo Kobra completa 49 anos nesta terça-feira (27) – não estranhe se encontrar outra data de aniversário no Google, coisas da Internet, nem ele sabe como surgiu esta informação.

Chegou na nossa entrevista sozinho, sem assessoria, assim, gente como a gente. “Tudo na paz, Rosana?”. O próprio Kobra abre seu ateliê, que neste dia não está aberto ao público. Tem todo o esquema de segurança, alarmes e afins. Está repensando a abertura do espaço, pois realmente trabalha lá às vezes, mas se tem público tem pedido de foto, que o muralista nunca nega. Inclusive, sua última obra, a prancha de Gabriel Medina, está por lá. “Ele deve vir buscar por esses dias, é meu amigo”, explica.

O local já recebeu outros cidadãos ilustres: o CEO da Vulcabras,  Pedro Bartelle veio até Itu para retirar a obra do artista que homenageou o Rio Grande do Sul e em leilão foi arrematada por R$ 400 mil;  ou o proprietário da Cacau Show, Alexandre Costa. “Ele veio aqui, a gente pegou o helicóptero e fomos até onde estão fazendo o parque, aqui em Itu”, conta Kobra, com a simplicidade que lhe é peculiar. Não tem ostentação em sua fala…  Alexandre atualmente é dono da marca Playcenter e foi no icônico parque que Kobra conheceu sua esposa, Andressa, com quem está há vinte anos.

O artista fazia suas artes por lá e a jovem atriz cotou quanto seria uma arte de máscara cênica em sua camiseta. Trocaram contato e ficaram juntos desde então. “Ela esteve ao meu lado nos piores momentos, na pobreza, na tristeza, na depressão…” Hoje cuida da parte burocrática e do escritório e juntos são pais de Pedro, 8 anos.

O mural para a Cacau Show, em Itapevi, feita em 2017, tornou sua arte amplamente conhecida, às margens da Castello Branco. Impossível não saber quem é Kobra, primogênito de uma família de três filhos,  que começou como pichador na periferia paulistana e se tornou um grafiteiro mundialmente conhecido, com mensagens de paz ao redor do mundo e obra no Guiness Book. Aliás, foi chamado recentemente para pintar na China. Na Rússia também já fez um mural.

 Mas ele ainda se encanta com esse alcance de sua arte. O olho brilha, principalmente, quando as câmeras dos celulares desligam. Oferece seu melhor sorriso, fica à vontade com as estranhas jornalistas que estão em seu sofá…

Sua trajetória já foi contada em centenas de entrevistas e até documentários premiados. Menino rebelde, sempre foi mal na escola: só queria desenhar, rabiscar, pichar… nas ruas, conheceu o submundo da sociedade. Foi convidado a sair de casa. Se entregou de forma visceral à arte e à bebida, como tantos artistas que não conseguem viver em equilibro com a própria sensibilidade e criatividade. Sentir o mundo é muito doído…

O excesso de uso de tintas usadas em suas obras lhe causou questões sérias de saúde. Adoeceu, física e mentalmente. “Fui parar no psiquiatra, e ele me deu remédios, mas não era o caso para isso. Eu cheguei a tomar 12 comprimidos no dia, depois beber para melhorar os efeitos colaterais. Foi terrível… depois deu um tempo descobri que tudo isso era causado pelos metais pesados das tintas, hoje eu me cuido, uso máscara, cuido da alimentação e me trato com remédios naturais”.

Kobra também atribui outro remédio para sua melhora física, mental e emocional: o encontro com Deus. Começou a frequentar igrejas há vinte anos, mas há uma década realmente encontrou paz através da religião. “Antes eu ia à igreja, mas saía e ia para o bar…”, conta. Lembra do dia em que entrou em uma igreja e o pastor disse que alguém ali iria ser abençoado por Deus e levar sua arte pelo mundo. “Era para mim…”

O encontro com Deus e consigo mesmo lhe trouxe o que tanto buscava: paz. Atualmente, trocou o rap pelo gospel e na sua playlist tem apenas louvores. “Existe um estereótipo de que artista tem que ser “vida louca”, mas eu entendi que só conquistei tudo isso – pintar murais em mais de 30 países – devido à minha conduta cristã. E a minha obra é uma extensão do que eu sou: não adianta eu falar de paz se eu não a tiver na minha vida…”

A fé somada à dedicação o levou muito além do que imaginava: são 50 murais apenas nos Estados Unidos, pintadas pelo menino que já teve como ambição apenas pagar o aluguel mensal.  

Há 13 anos ele não bebe mais nada alcoólico e se tornou radical com relação ao assunto. “Eu perdi alguns amigos, mas faz parte. Na minha casa, sou radical: não entra bebida alcoólica, nem no Ano Novo. Nas Olimpíadas, eu tive uma proposta milionária, mas envolvia marca de bebida alcoólica e eu neguei. Minha obra é muito maior do que bens materiais…”

Mas faz questão de ressaltar que sua fé e suas escolhas são apenas suas. “Não quero ensinar para ninguém o que deve fazer, estou falando sobre mim, o que deu certo para mim…”

O artista já conhecia Itu, como turista, mas no começo da pandemia começou a frequentar um hotel na cidade. Há cinco anos mora e vive por aqui, quando não está viajando pelo mundo.

Aqui também está criando o Instituto Kobra, que busca parcerias para ser viabilizado. Enquanto isso, ele anda por aí, gente como a gente…  se o encontrar, pode pedir uma foto.

Ou se estiver passando pela Rodovia Castello Branco, admire o menino na canoa ou a linha da vida na lateral do Madeiro. Ou se preferir, vá até o ateliê do Kobra, com dezenas de suas obras.

O valor do ingresso é R$ 15 e funciona de quarta a domingo, das 11h às 17h, dentro do Fama Museu.

Parabéns, Eduardo Kobra!

(Texto: Rosana Bueno Colaboração: Simone Santos Fotos e vídeos: Carol Rivieri)

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