Lixo atômico: comunidade próxima tem medo, mas pouca opção de moradia
Continuamos a terceira reportagem sobre o tema
Apesar do lixo atômico estar em Itu há quase 50 anos, muitos ainda não sabem o local em que ele fica. Está há 23 km do centro de Itu, e pode ser acessado pela estrada rural em frente ao posto de combustíveis Catarinense, na pista sentido contrário, na Rodovia Waldomiro Côrrea de Camargo, ou ainda pela Rodovia Castello Branco, acesso na Estrada do Varejão. Em linha reta, está há 2 km atrás do Road Shopping, na Rodovia Castello Branco, sentido capital-interior, km 75.
Chegando lá, um muro com avisos e um portão simples guardam o material. Um vigilante fica 24horas no local e não tem permissão para adentrar a parte interna, protegida por uma cerca, em que é possível ver os silos em que está depositado o material.
Próximo dali, há sítios e loteamentos. Mas a região mais próxima é ocupada por famílias e fica paralela à linha ferroviária, antiga Fepasa, atualmente Rumo.
Diversas casas foram construídas em uma faixa de terreno à beira da estrada. A reportagem do Jornal de Itu esteve no local e conversou com moradores.
Moradia gratuita
Joice Rodrigues é uma das moradoras mais próximas do bairro Taquaral, da Estrada da Servidão. Ela mora no local há dois anos, com dois filhos, em uma casa com dois cômodos de alvenaria e mais um adaptado com tábuas. “Não pago nada, minha irmã deixou para mim. Não sei de quem ela comprou. Já ouvi falar do lixão, mas nunca fomos para lá”, conta a vendedora autônoma.
Há ônibus três vezes por dia e coleta de lixo uma vez por semana. O saneamento básico é feito com fossa. A água é captada de poços. A escola fica ao lado, no loteamento Eldorado, com transporte de van. O atendimento médico é feito no UPA ou UBS da Vila Martins.
Há alguns metros, José de Freitas também construiu sua casa. “Fiquei sabendo que tinha o lixo há um ano, mas nunca ouvi falar que aconteceu alguma coisa. E eu já vi eles recolherem amostra de água do poço e do córrego, acho que está tudo certinho. A gente pensa em ir embora, mas ainda não deu”, fala. Ele pagou, há quatro anos, R$ 4.000 por um lote de mil metros quadrados. “Já cheguei a ter oito cabeças de gado aqui, eu me virava”, diz o pedreiro.
Mas uma chácara na mesma rua tem um valor bem diferente: o “dono” pede R$ 320 mil. Tem piscina, salão de festa, suíte. E telefone para contato. O homem se identifica como proprietário e diz que está tudo regularizado. Sua esposa diz que tem o “contrato de gaveta”. “Lá tudo é assim, né?”
Em comum, muitos vieram de Sarapuí. “Aqui, a maioria é tudo parente”, diz Nádia Cristina, vizinha de frente de José. Ela está lá há 18 anos, quando casou-se com o filho de uma senhora que já morava lá havia 12 anos. “Minha sogra ficou com o terreno de um rapaz da Fepasa, mas eu não sei bem como foi isso”, conta. “Ela falava que tinha medo do lixo, a gente sabe que já fizeram abaixo-assinado, mas nunca resolveram nada”.
As crianças da comunidade improvisam uma partida de futebol em um campinho, ao lado da linha do trem, sem iluminação pública. Mas diversos postes estão na estrada, à espera de instalação.
Uma reportagem de 1986 mostrava que, na época, apenas duas pessoas moravam no local. Veja abaixo:
Transformação digital
Nossa primeira reportagem falou sobre as questões políticas que envolveram o tema nestes quase 50 anos e na segunda falamos sobre em cuida do local e o que é, exatamente, o “lixo”.
Esta reportagem tem o apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), do Meta Journalism Project e do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ).A Câmara de Vereadores de Itu considerou a reportagem utilidade pública.
(Texto e fotos: Rosana Bueno)
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