Lixo atômico de Itu: o que é e quem cuida?

Continuamos a publicar nossa série de reportagem especial sobre o lixo atômico de Itu

“Não é um rejeito radioativo, pois devido aos valores de tório, ela ainda pode ser reutilizada; por isso não pode ser chamada de lixo atômico”, explica a assessoria da INB (Indústrias Nucleares do Brasil).

Apenas para entendimento dos leitores, já que o material é conhecido popularmente desta forma, continuaremos nos referindo a ele como “lixo atômico”.

Na verdade, Torta II, é um material que contém pequena quantidade de urânio (em média 0,9%), tório (22%), entre outros componentes. Ele é resultante de processos industriais realizados desde a década de 1940 pela Nuclebrás Monazita (Nuclemon), antiga usina de Santo Amaro (SP), na exploração das areias monazíticas para a produção de compostos de terras raras, a partir de areia monazítica. O local foi desativado no fim dos anos 1990.

A área em que está alojado em Itu, antigo Sítio São Bento, é, oficialmente, uma Unidade de Estocagem de Botuxim (UEB): uma área de 300 mil m² que abriga 3.500 toneladas de Torta II, armazenadas em sete silos de concretos armado, com paredes de 20 centímetros de espessura. A área dos silos encontra-se isolada por cerca sinalizada.

Além de Itu, a cidade de Poços de Caldas (MG) e o bairro paulistano de Interlagos também possuem depósitos de materiais com a mesma origem.

Em 2013, levantou-se a hipótese de que o material abrigado em terras ituanas seria levado para a China no ano seguinte: caminhões levariam o material até o Porto de Santos e então navios transportariam para o outro país. O processo todo duraria um ano. 

 “Será levado em tambores metálicos, como manda a norma internacional de transporte de material radioativo”, disse na época à imprensa, o superintendente da INB, José Carlos Castro.  Porém, as autoridades de Pequim não forneceram a licença ambiental de importação do material.

Em 2021, houve uma polêmica em torno do assunto, pois o material localizado em São Paulo precisava ser retirado da Capital, chegou –se a cogitar que fosse levado para Itu ou a cidade mineira.  Até novembro de 2022, na publicação desta matéria, o material ainda está na capital paulista.

 Quem cuida?

Em 1974, mesmo ano em que o lixo começou a vir para Itu, houve a criação da  Nuclebrás. Em 1988,  a INB Indústrias Nucleares do Brasil – S.A (INB) foi fundada e incorporou as empresas que faziam parte da Nuclebrás, criada para cumprir o Acordo Nuclear Brasil – Alemanha.

Desde 13 de outubro de 2022, a INB se tornou uma estatal não dependente da União e, portanto, não recebe mais recursos financeiros do Tesouro. Ela passou a ser uma subsidiária da ENBPar ( Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A.)

“ A nova INB terá maior flexibilidade para estabelecer parcerias com a iniciativa privada, uma vez que a nova legislação permite que sejam feitos outros modelos de associação entre a INB e parceiros privados para exploração de jazidas minerais que possuam minérios nucleares, o que deve atrair capital privado e desonerar o contribuinte, gerando emprego e renda para a população”, explica a instituição.

Nossa primeira reportagem falou sobre as questões políticas que envolveram o tema nestes quase 50 anos e na próxima falaremos sobre a comunidade que mora próxima ao local.

Esta reportagem tem o apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), do Meta Journalism Project e do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ).

(Texto e fotos: Rosana Bueno)

4 comentários sobre “Lixo atômico de Itu: o que é e quem cuida?

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