O drama, cada vez mais comum, de adolescentes mães
Já faz algum tempo que trabalho com mamães. Mulheres que acabem de se tornar mamães. Converso com elas, e participo de sua vida em um momento especial! Participo no momento da chegada de um filho. Momento sagrado, esperado, preparado… Mágico! Cansativo… Mas tão intenso e cheio de alegria!
Pois bem… nem sempre!
Não era hora!
Esse é o último!
Minha mãe me colocou pra fora…
Escondi a gestação.
São frases cada vez mais comuns, muito comuns, quase uma regra, bem mais que a metade dos casos que tenho atendido.
Mas o que tem me chamado atenção, pois é parte do meu cotidiano, é a frustração que está substituindo a alegria! Pré-natal negligenciado, exames não feitos, gestação escondida… pai do bebê ausente, avós nervosos…
Que está acontecendo? Por que os mecanismos de prevenção de gestação não são procurados?
Eu sempre ouvi dizer que a maior prevenção de gestação precoce era sonhar!
Sonhar que é possível estudar, fazer a diferença… trabalhar e se realizar. E, no momento oportuno, receber seu filho com alegria. E é por isso que essas meninas, tão crianças, me preocupam.
Com os olhos voltados para o celular, com dor nas mamas ainda tão juvenis para amamentar, elas me parecem ter desistido de sonhar.
Um realidade triste e diferente do que vejo nas redes sociais. E, além disso, uma pergunta fica em minha cabeça: quem será a professora dessas crianças nascidas agora ? A enfermeira, a terapeuta, a pediatra?
Se a mulher voltar a ficar em casa, se optar por não trabalhar mais, para onde vamos caminhar?
Não estou escrevendo isso por motivação acadêmica ou por uma data especial.
É uma realidade que vem nos preocupando, a nós, agentes de saúde, que lidamos com as gestantes adolescentes.
Essa realidade tem um impacto muito maior do que se imagina, ela corta a progressão da sociedade como um todo …
Vai muito além do cuidar do bebê, algo já tão complexo e delicado…
Avós podem até mesmo substituir essa função; mas o desfalque permanecerá se essa moça não assumir o seu lugar como cidadã.
Pois é duro acreditar que assistir danças no Tik Tok e beber copos de bebida alcoólica sejam o objetivo final dessa garotada. Mulher que não estuda, não trabalha, que chance terá diante de uma agressão?
Terá coragem de seguir sozinha, uma vez que é totalmente dependente? Enfim…
São muito motivos que ocasionam essa realidade, e que, parece, tem sido maiores do que os mecanismos que criamos para soluciona-la.
Mas desejo, profundamente, que essa geração, rica em saúde e talentos, tenha coragem de voltar a sonhar.
Tenha força para lutar para além do celular… lutar na vida real.
E, quando os filhos chegarem, possam ser amados e encontrar um lugar melhor… para sonhar com seus pais.
Gabriela Santos Oliveira
Pediatra