O incômodo que ressignifica

Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro vetou a distribuição gratuita de absorventes íntimos para mulheres em situação de vulnerabilidade social ou de pobreza, o que despertou a reação de entidades que atuam no combate à pobreza menstrual. De acordo com o Unicef ( Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância), pobreza menstrual é a situação vivenciada por meninas e mulheres, devido a falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento, para que tenham plena capacidade de cuidar de sua menstruação.

Mas o que isso significa? Muitas mulheres, não tem condições de comprar absorventes para usarem nos dias em que elas ficam menstruadas, o que faz com que elas substituam por itens improvisados de absorção de fluxo, como papel higiênico, jornal, sacolas, areia, miolo de pão ou jornal. E isso as impacta de maneira física, emocional e psicologicamente, todos os meses, além de violar os direitos humanos, a igualdade de gênero e afetar diretamente a vida produtiva dessas mulheres. Com um ciclo menstrual que varia de cinco dias a uma semana, uma menina pode gastar por mês de 10 a 15 reais só em absorventes.

De acordo com a ONU ( Organização das Nações Unidas), no Brasil, 25% das meninas entre 12 e 19 anos já deixaram de ir à aula alguma vez por não terem acesso a absorventes.

Em uma escola no interior da Bahia, a diretora, intrigada com a evasão de meninas na escola, resolveu investigar e viu que elas faltavam todos os meses, praticamente nos mesmos mesmos dias, o que a fez perceber que as faltas aconteciam durante período menstrual delas. Avalizada pelo Senado e pela Câmara dos Deputados, o projeto previa que os itens básicos de higiene deveriam ser distribuídos para estudantes de baixa renda, de escolas públicas e mulheres em situação de rua ou de vulnerabilidade extrema, como presidiárias ou apreendidas por instituições de reeducação.

Com o objetivo de minimizar os danos causados nessas mulheres, o Coletivo Igualdade Menstrual criado em 2020, já distribuiu mais de 200 mil absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade extrema em Curitiba, e também na região metropolitana da capital, além de produzir ações de conscientização, fornecendo informações sobre o tema na página @igualdademenstrual. Já a Paraíba sancionou uma lei em 15 de setembro, para o programa Dignidade Menstrual, que deve atender 700 mil pessoas, entre adolescentes, mulheres e homens trans, que serão beneficiados pelo programa, e também pessoas com renda abaixo de um salário mínimo por família, população em situação de rua, pessoas inseridas em programas sociais do governo estadual e federal, adolescentes da rede de ensino público e moradores de comunidades tradicionais e povos originários.

De acordo com a Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana do Estado, será distribuído mensalmente, para cada pessoa, um pacote com 24 unidades. São ações como essa, que devem partir do Poder Público, que trarão dignidade para essas mulheres

Érica Gregorio, jornalista, estudante de Sociologia, escreve periodicamente no seu blog ericagregorio.com

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