Ong precisa de uma casa para abrigar vítimas da violência
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O tema faz parte de um submundo muitas vezes desconhecido, ignorado ou ocultado pela sociedade: a violência contra a mulher. A ONG Não Posso Me Calar, que atende mulheres vítimas de violência em Itu e Salto, recebeu 54 denúncias no ano passado, através de suas redes sociais e também da rede pública.
Dessas, apenas cinco continuaram o acompanhamento. “A maioria desiste, acaba voltando para o companheiro. Mas nós não julgamos: elas podem nos procurar vinte vezes que em todas as ouviremos com respeito, com sororidade”, conta a coordenadora psicológica da ONG, Regiane Palhares. O atendimento é feito para as mulheres e também crianças e adolescentes que presenciaram a agressão. “Todos são vítimas. Uma criança, se não for cuidada, irá ter tendência a reproduzir a mesma violência quando for adulta”.
As histórias dessas mulheres se confundem com a história da presidente da ONG, Christiane Loschiavo, 51 anos. Ela foi pastora durante muitos anos e também sofreu violência doméstica. Relembra que dentro do ambiente religioso a tendência é que peçam para as mulheres se calarem.
Depois de sair de seu relacionamento tóxico, ela criou a Ong, e atualmente a grande luta é buscar um imóvel para abrigar, temporariamente, mulheres e filhos que são agredidas e precisam ter aonde ficar até reorganizarem suas vidas. “Temos condições de manter essas famílias, mas não temos como pagar este aluguel. Recentemente, uma mulher agredida passou o final de semana na minha casa, pois não tinha onde ir. Nós já pagamos hotel e até viagem para essas mulheres terem um local longe de seus agressores!”, conta Chris.
Ela diz que para se manter faz faxina e nem carro possui. “Eu fazia palestras mas com a pandemia isso parou. Já me disseram que eu não poderia contar que fazia faxina pois isso iria prejudicar a minha imagem de empoderamento, mas eu ganho um trabalho honesto pois não Ong eu não recebo nenhum centavo”, diz. Me viro para ir nas ocorrências em que nos chamam, pois o grande problema é que a maioria dos casos acontece nos finais de semana e no período noturno, em que a Delegacia da Mulher está fechada”, explica.
“Este é um problemas de todas as classes sociais, mas muitas mulheres de classe mais alta não denunciam pois não querem se expor”, diz Regiane. Ela também lembra que o fato da cidade não ter um Instituto Médico Legal torna ainda mais doloroso a situação de uma vítima de violência sexual, que precisa fazer exames em Sorocaba. “Outra questão importante é a abordagem nas ocorrências. O comandante da GCM de Itu, Rovaldo Martins Leite, me chamou para conversarmos e fez uma cartilha para os guardas saberem como agir nesses casos, isso ajudou muito. Já tivemos casos de policial colocar a mulher para fora de casa e deixar o homem dentro”.
Por isso, a luta de Chris, Regiane e de diversas outras voluntárias da Ong nesta causa é conseguir um abrigo temporário para elas. “Precisamos de um casa, onde elas possam se restabelecer. Fazemos atendimento psicológico e com a pandemia a maioria não tem como falar com a gente dentro de um casa em que não têm privacidade, e acabam desistindo do acompanhamento. Se elas tiverem onde ficar, se restabelecer e quebrar os vínculos com o agressor, elas poderão refazer a vida com dignidade”, explica Regiane.
Quer ajudar nesta causa? Entre em contato: fale@naopossomecalar.org.br
Números
A Delegacia da Mulher de Itu atende em média 600 casos por ano de mulheres vítimas de violência. Em 2020 foram registrados 591 Boletins de Ocorrência. Foram instaurados 498 inquéritos policiais e 43 agressores foram presos.
No ano de 2021, até o dia 23 de fevereiro, foram registrados 76 Boletins de Ocorrência, instaurados 71 inquéritos policiais e foram presos 6 agressores.
Denuncie!
Ligue: 190 PM ou 180 Central da Mulher. Procure a Delegacia da Mulher ou Delegacia comum mais próxima de você. Você pode procurar ainda o CREAS, CRAS ou uma entidade séria, como a ONG Não posso me calar e dê um Basta à violência.