Por mais harmonia e respeito…
Desde 2018, vemos uma escalada na intolerância política crescer em ritmo acelerado no nosso país. Primeiro foi o assassinato da vereadora do PSOL, Marielle Franco, que foi assassinada a tiros em Março de 2018, depois em Setembro do mesmo ano, acontece o atentado a faca ao então candidato a presidente Jair Bolsonaro. E agora essa semana vemos o assassinato de um apoiador da esquerda por outro da direita, por motivos exclusivamente políticos e por cada um estar em uma extremidade oposta na esfera política.
As eleições sempre insuflaram apoiadores de ambos os lados, desde a redemocratização do país em 1985, mas antes as discussões entre opiniões opostas ficavam restritas ao nosso círculo social ou familiar. Agora com as mídias sociais e aplicativos como o whatsapp, essas vozes tomaram proporções que antes não era possível. Todo mundo tem um espaço maior para falar, dar sua opinião, concordando ou não com o ponto de vista do outro, mas em casos de discordância essas discussões são mais enérgicas e ganham mais coro, mais apoiadores, devido ao alcance delas, abrangendo cada vez mais pessoas, e com isso vemos cada vez menos tolerância entre as pessoas, menos respeito e egos cada vez mais inflamados.
É preciso ressaltar que uma democracia “pressupõe o amplo debate de ideias e a garantia da defesa de posições partidárias com tolerância e respeito à liberdade de expressão”, assim disse Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. A liberdade de expressão está ligada ao direito de manifestação do pensamento, a possibilidade do indivíduo emitir suas opiniões e ideias ou expressar atividades intelectuais, artísticas e de comunicação. Mas o número de pessoas que não aceitam ideias opostas está aumentando cada vez mais. E isso não está acontecendo somente no Brasil. Há poucos dias, no Japão, do outro lado do mundo, vimos o assassinato do ex-primeiro ministro Shinzo Abe por um militante do partido oposto ao dele. O crime causou espanto principalmente porque o Japão tem tolerância quase zero em relação à posse de armas e uma das mais baixas taxas de violência armada do mundo, o que torna a morte do premiê como um ponto fora da curva.
A intolerância pode ter o seu lado positivo, como não tolerar corrupção, mentiras, injustiças e desigualdades. Mas o que estamos vendo é a falta de tolerância e capacidade de lidar com diferentes modos de pensar. A política tem e deve ser discutida. Defender uma opinião não significa conquistar novos amigos, pelo contrário, significa expor, debater e discutir ideias opostas para assim chegar a um consenso que seja melhor para todo mundo, porque ninguém é igual a ninguém, mas só através de um amplo debate que conseguiremos ter uma sociedade mais igualitária e justa para todos. Por isso a opinião de cada um importa, independente de qual seja. Todos podemos contribuir para chegar no ideal que seja melhor para cada um, mas que com ele possamos viver juntos e em unidade.
Érica Gregorio, jornalista, estudante de Sociologia, escreve periodicamente no seu blog ericagregorio.com