Seria mais fácil ganhar na loteria

Já ouviu essa frase? Eu ouvi de um médico quando ele olhava meus exames.
Mas essa história começa 7 meses antes disso.
Numa viagem em setembro de 2017, passei muito mal, com tontura, náusea e não conseguia sair da cama. Ainda bem que estava hospedada na casa de minha irmã, pois eu estava com vergonha de estar passando mal. O ser humano é esquisito. Meu primeiro diagnóstico foi labirintite nervosa, que provavelmente aconteceu por conta do meu medo de avião. Até com ele parado tenho medo. Preciso fazer terapia para isso.
Em dezembro do mesmo ano, comecei a sentir dor de cabeça constante, mas não era uma dor insuportável, porém, era algo diferente.
De repente, não conseguia andar normalmente, meu quadril não acompanhava. Muito estranho.
E lá vamos nós para a bateria de exames, achismos de todas as partes, inclusive dos médicos.
Antes mesmo do diagnóstico, comecei a fazer fisioterapia, procurei ajuda e fui em todas as igrejas que indicavam. Fé nunca é demais.
Você pira, claro, mas isso não pode tomar conta de você. Qualquer doença é preocupante, nos desestabiliza e na verdade, é um saco, mas não podemos deixar que ela vire nossa vida de pernas para o ar. Mas ela vira, e como vira.
Nessa época, estava fazendo Licenciatura em Artes Visuais, pois até então, todo o meu contato com arte era amador, e queria me aprofundar e aprender cada vez mais.

Com 43 anos, vi minha vida ser transformada e transportada para um mundo desconhecido.
Em março de 2018 estava recebendo o diagnóstico.
Serenidade. Essa palavra define o conjunto de sentimentos que afloraram dentro de mim. Serenidade por confiar em Deus, por ter uma família presente e um marido amigo e companheiro, que já passou por muitos outros obstáculos comigo.
Depois da serenidade, começam os sentimentos contraditórios, pois quando temos um filho, no meu caso uma filha de 8 anos, você só pensa na criança. Será que vou conseguir criar minha filha? Será que ela será muito afetada? Será? Todo pensamento era direcionado para ela.
Um tumor cerebral se instalou no meu nervo vestibular( um dos nervos cerebrais) e com isso, causou também uma hidrocefalia.
Eu agradeço por ter tido a hidrocefalia, pois foi ela que causou os sintomas. Esse tumor é silencioso, e só costuma ser percebido quando está muito grande.
E dá-lhe procura no Google, claro, mas isso não é nem um pouco recomendado. Mas a gente faz.
Diagnóstico provado, vamos para o tratamento, mas antes, contamos para a família e amigos. Contamos o que sabemos, que é quase nada.
Todo mundo quer saber os sintomas de uma doença. É até engraçado, né?
— Mas o que você sente? — perguntava um.
— Eu também sinto isso! — falava outro.
Começamos a falar com os neurocirurgiões. A gente quer saber o currículo do cara que vai abrir nossa cabeça.
Eis que uma médica abençoada me indicou um cirurgião.
— Ele é especialista no seu caso — Disse ela.
Pronto, era isso que eu queria ouvir.
Meu marido era o responsável por fazer todas as perguntas. Agora tenho certeza de que o acompanhante sofre mais que o doente.
O médico resolveu fazer as duas cirurgias no mesmo dia, uma para colocar uma válvula para conter a hidrocefalia e outra para retirar o tumor.
— Doutor, o que pode acontecer? — Meu marido.
— Ela provavelmente perderá a audição do ouvido esquerdo, ficará com paralisia facial, que poderá não ser totalmente resolvida pois o tumor esmagou os nervos faciais, pelo que vemos nos exames , e não sei se ela voltará a andar normalmente.
Já sabíamos de tudo. Marca a cirurgia e vai!
Os amigos foram uma dádiva na minha vida, e a família, meu pilar.
Dia 17 de abril foi o dia. Meu marido pediu para eu não chorar quando se despediu no corredor do centro cirúrgico. Mal ele sabia que eu estava toda zen.
Desconfio que deram alguma coisa pra eu tomar antes da cirurgia, pois entrei na sala pedindo para ouvir rock. O anestesista olhou pra mim e disse: Daqui a pouco vou colocar um rock, mas você não vai ouvir nada…
Meu marido falou que a cirurgia demorou 12 horas. Meu amigo anestesista ia enviando mensagens para ele.
Que música será que colocaram?
A recuperação? Isso é outra história…

• Nani Mazurchi, escritora https://www.amazon.com.br/kindle-dbs/entity/author/B08F5KKWKR?ref_=dbs_p_ebk_r00_abau_000000