D. Emília, professora de datilografia, faleceu aos 97 anos
Faleceu neste domingo (6), Emília Gertrudes Silveira Camargo, 97 anos, professora e uma das sócias-proprietárias da Escola Remington de
Datilografia, que por mais de 40 anos lecionou datilografia para os ituanos. Ela está sendo velada no Barbieri e o enterro será as 14h, no Cemitério Municipal de Itu.
Como homenagem, reproduzimos abaixo uma matéria de 2015:
Sete gerações escritas à maquina
Sinos indicando o fim da folha e os famosos “tec-tecs” das máquinas de escrever não fazem mais parte da trilha sonora de escolas e escritórios. Mas existem interessados pela datilografia, uma arte lecionada por mais de 70 anos por uma ituana que profissionalizou parte do passado da cidade. A professora Emília Gertrudes Silveira Camargo, 85, ajudou a formar em datilografia cerca de 10 mil pessoas em Itu, onde vive desde que nasceu.
Esse número é crescente e Emília ainda leciona para os interessados na arte de datilografar. Ela conta que essa paixão teve origem quando presenciou uma manifestação divina na varanda de sua casa. “Era noite e ouvi barulhos de máquina de escrever em minha casa. Então me deparei com uma mulher vestida de freira. Era Santa Terezinha”, relata. Nessa época, ela já se interessava pela técnica. Aos 14 anos, Emília já ensinava datilografia e quem assinava o diploma dos formandos era o diretor da escola na época, Antonio Ianni.
“Assim que completei a maioridade, fui a São Paulo fazer exames para conseguir a minha autorização para dar aulas. No teste foi pedido para datilografar valores da nova moeda que seria logo implantada, o cruzeiro novo. Muitos reprovaram por causa disso”. Mas Emília foi aprovada. Ao conseguir seu diploma, assumiu a escola e começou a formar seus próprios alunos.
Com uma ótima memória, a professora relembra os tempos difíceis durante a Segunda Guerra Mundial. “Eu preenchia os talões que davam permissão para a aquisição de gasolina. Com o racionamento do combustível na época, cada motorista podia comprar apenas 10 litros do líquido. Passava a noite inteira fazendo os talões a mando do Quartel”.
Outro fato relatado é quando uma de suas alunas contraiu hanseníase e teve que se internar no Hospital Doutor Francisco Ribeiro Arantes, localizado na região do Pirapitingui. “Ela começou a ensinar para os outros pacientes a datilografia. Depois que os alunos faziam os testes exigidos, eu expedia diplomas para eles”, lembra. Alguns faziam da aula um passatempo, outros uma profissão. “Muitos começaram a trabalhar como secretários na administração do hospital”. A modernidade fez das máquinas de escrever artigos de repúdio e de museus, mas Emília conta um caso bem interessante.
“Num domingo, um advogado veio até minha escola para datilografar uns documentos que o cartório não aceitou impresso por computador. Ele passou quatro horas aqui refazendo uns documentos”. Foram sete gerações lecionadas pela professora, que ajudou escrever a história de Itu.
Texto e foto de José Fernando Martins de Oliveira – matéria de 2015.
Fui uma de suas alunas Quando passei no concurso de escrevente do TJ/SP digitei 2 vezes o texto exigido e ainda sobrou tempo. Essa rapidez se deu por conta da dedicação da dona Emilia, enquanto sua aluna, era exigente na medida certa, na excelência do seu ensino. Divida de gratidão!