God save the Queen
Quando a rainha da Inglaterra Elizabeth II comemorou seus 25 anos de reinado, em 1977, a banda de punk rock Sex Pistols lançou uma música em referência ao hino do Reino Unido,”God Save the Queen”.
A primeira estrofe dessa música compara a monarquia britânica a um regime fascista, querendo dizer que a rainha não é um ser humano.
Mas, apesar da polêmica gerada, a canção virou um sucesso, chegando a ocupar o segundo lugar nas paradas de sucesso da época.
E, além disso, esta música também se transformou em uma das saudações mais conhecidas à rainha Elizabeth II, aparecendo em várias músicas, filmes, e séries.
O objetivo do grupo com a canção era falar com a classe operária britânica e dar voz às suas angústias.
Lançada no final da década de 70, os músicos incorporaram a raiva de muitos jovens britânicos desempregados que não viam um futuro de boas perspectivas à frente.
A atitude anarquista da banda refletia a alienação social que esses jovens sentiam diante da repressão e da pobreza vivida no país naquela época.
Em uma tradução literal do título: “Deus Salve a Rainha”, a frase tem toda uma história por trás.
O verso da música faz uma referência ao hino da inglaterra que surgiu em Setembro de 1745, quando o até então pretendente ao trono britânico, o príncipe Charles Edward Stuart, derrotou o exército do rei George II, em Prestonpans, perto de Edimburgo – assim, a frase original do hino é Deus salve o Rei.
Quando a notícia da vitória de Charles chegou em Londres, o líder da banda do Theatre Royal Drury Lane organizou God Save the King para uma apresentação após uma peça.
A iniciativa foi um êxito, e foi repetida por várias noites. Não demorou muito para a prática se transformar em costume e assim foi estabelecido o hábito de saudar os monarcas com o verso quando eles entravam em um local de entretenimento público.
A notícia da morte da rainha, aos 96 anos, no último dia 8 de setembro, comoveu o mundo e marcou o fim de uma era.
Com o reinado mais longevo da história, seus 70 anos no trono teve diversos escândalos envolvendo divórcios, abuso sexual e críticas.
Apesar destas dificuldades, a rainha foi capaz de instaurar uma série de regras em torno de mulheres que ocupam tronos reais como, por exemplo, permitir que elas sejam as primeiras na linha de sucessão.
Assim, caso o primogênito do agora então Príncipe e Princesa de Gales fosse uma mulher, ela teria a preferência ao trono, sobre seus irmãos mais novos.
Na Segunda Guerra Mundial a rainha, então ainda princesa, quebrou paradigmas ao ser uma motorista perspicaz e ser vista constantemente dirigindo. Quando se tornou rainha também foi a primeira monarca a abrir o castelo de Buckingham ao público, numa tentativa de se aproximar de seus súditos.
O fato é que Elizabeth II foi a primeira em muitos aspectos.
Desde os tempos de princesa ela já demonstrava sua altivez, quando, diante da doença do pai, começou a assumir compromissos reais e aprender sobre a vida de rainha. Elizabeth se tornou rainha por acidente, após o pai morrer de forma precoce e o tio abdicar do trono. Sua cerimônia de coroação, em 1952, foi televisionada pela 1ª vez na história.
Ao longo de seu reinado, ela empossou 15 primeiros-ministros britânicos, conheceu 12 presidentes americanos, liderou a Inglaterra no período pós-guerra, vivenciou diversos momentos de conflito como a tensão com a Irlanda do Norte, a Guerra Fria, a Guerra das Malvinas, as invasões no Iraque e Afeganistão, sem contar com os recentes Brexit ( saída do Reino Unido da união Europeia) e a pandemia de Covid-19. Foi também a primeira rainha a visitar a Austrália e a Nova Zelândia, duas ex-colônias britânicas.
O processo de paz entre as duas Irlandas foi sacramentado pelo aperto de mãos entre ela e o ex- dirigente do IRA ( Exército Replubicano Irlândes).
Após fazer parte de tantos momentos da história mundial, as marcas de Elizabeth II serão para sempre lembradas, seja por sua diplomacia ou por sua longevidade, que se sobrepõe a diversos momentos marcantes para a humanidade, enviando mensagem aos tripulantes da Apollo 11, assistindo a ascensão de 6 papas, a realização de 18 Olimpíadas, de todas as Copas do Mundo, por ainda ter passado pelo fim e o início do nazismo, da Guerra do Vietnã, da criação e a queda do Muro de Berlim, pela crise financeira mundial de 2008, pela guerra entre Rússia e Ucrânia e por ter sobrevivido às epidemias de sarampo e malária.
Deus, definitivamente, Salve a Rainha!
Érica Gregorio, jornalista, estudante de Sociologia, escreve periodicamente no seu blog ericagregorio.com