A educação de filhos e o ódio nas eleições – o que uma coisa tem a ver com a outra?

Na primeira semana após as últimas eleições, alguns de meus clientes, crianças e adolescentes, foram agredidos verbal e/ou fisicamente por colegas de escola ou até mesmo excluídos dos grupos de amigos. Por quê? Simplesmente, por apresentarem opiniões políticas diferentes.

É fato que vivemos – e ainda estamos vivendo – uma polarização política, que resultou em ódio, violência e discriminação. Se isso é preocupante entre adultos, é ainda mais preocupante entre crianças e adolescentes. Se para nós, adultos, foi difícil lidar com essa situação toda, para eles – com cérebros ainda em desenvolvimento – é muito mais difícil.

Crianças não têm, ainda, desenvolvimento cognitivo suficiente para discernir o que é melhor ou não para o futuro de um país, devido ao nível de complexidade que esse tema engloba.

As opiniões que elas externalizam são apenas uma reprodução das opiniões de seus próprios pais e/ou de pessoas significativas para elas. É somente na adolescência que essa capacidade de discernimento começa a amadurecer e é quando opiniões próprias, muitas vezes diferentes das dos pais, começam a surgir – não é à toa que o direito ao voto é adquirido apenas aos dezesseis anos.

Crianças e adolescentes aprendem pelos exemplos que eles possuem. Eles reproduzem o que as pessoas mais próximas e significativas dizem ou fazem. Se você agredir seu vizinho por ele ter uma opinião política diferente da sua, muito possivelmente seu filho fará o mesmo com o colega da escola.

Muitos de nós esquecemos, nesse momento histórico, que o respeito e a empatia são a base para relacionamentos saudáveis, em todos os âmbitos de nossas vidas. É nosso dever, como pais, ensinar nossos filhos a respeitarem as diferenças e a se colocarem no lugar do outro, a fim de entenderem seus sentimentos e intenções – isso se chama empatia. Sem respeito e empatia, os relacionamentos pessoais estarão fadados ao fracasso, sendo impossível conviver saudavelmente em sociedade.

Se você, adulto, não consegue respeitar a opinião política do outro, como você será capaz de ensinar seu filho a ter respeito pelas opiniões diferentes das dele? A melhor educação que você pode dar a ele é seu próprio exemplo.

O “mundo melhor” que você quis obter com seu voto nas urnas deve começar muito antes – dentro da sua casa, no seu ambiente profissional e social, por meio de suas próprias atitudes e valores, ou seja, por meio de seu próprio exemplo.

Dinorá de Paiva Anastacio

Psicóloga da infância e adolescência

CRP: 06/88549

Instagram: @dinorapsicologa

2 thoughts on “A educação de filhos e o ódio nas eleições – o que uma coisa tem a ver com a outra?

  • Muito oportuno o artigo em questão. Basta olhar a recente tragédia no ataque às escolas de Aracruz/ES, onde o atirador utilizou armamento do pai, policial militar. Não obstante a eventual responsabilidade dos pais, que sera objeto de apuraçao, não devemos individualizar a figura do autor do crime. A sociedade tambem devera refletir quanto a sua responsabilidade nessa tragedia. Vamos partir para a soluçao de conflitos por meio da violência, eliminando os outros, os divergentes, ou vamos dialogar, buscando a conciliaçao e negociando o contraditório em um processo civilizatório? Enquanto sociedade, temos o poder moderador para mitigar ou permitir esse violência. Temos o poder de exigir o desarmamento dos cidadãos. Voce, eu, nós…não somos inocentes nesse processo.

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