A minha luta para conseguir um teste de Covid-19

Tudo começo no dia 27 de abril. Eu e minha amiga Edimara, que é auxiliar de enfermagem, moramos juntas, em Itu, e começamos a ter diarreia e náuseas. No dia 04/05, percebi que  ela estava amarelada e fraca, o que não é normal. Como eu também não melhorava, fui no dia seguinte na Unidade Básica de Saúde.  A enfermeira disse que aqueles sintomas não eram de coronavírus e me envia embora para casa.

À noite, minha amiga chega do trabalho já com piora dos sintomas e vamos para o PAM da Vila Martins. Começa então nossa luta por um diagnóstico correto.

Ao chegar para a triagem, falamos o que estávamos sentindo e insistimos em sermos atendidas, mesmo a enfermeira dizendo que nos enquadrávamos como casos suspeitos pois não tínhamos quadro respiratório nem tosse.

Passamos por um médico que pediu Raio-x, foi muito atencioso e como sou asmática e hipertensa, nos afastou por 14 dias das nossas atividades. Nos falaram que não haveria testes pois estes seriam apenas para pacientes com graves problemas respiratórios.

Como Edimara estava mal, eu não aceitei ficar sem teste. Entrei em contato com a Prefeitura e depois entrei  em contato no mesmo dia com o Prefeito, ele questionou sintomas, nome, local de trabalho e autoriza o exame dela na UPA. Chegando lá, o nome dela já estava com o pessoal, mas ao coletar as informações o enfermeiro novamente questiona o motivo da testagem e opina que não haveria necessidade. Insistimos, citamos que havíamos falado com o Prefeito, e fazemos o exame PCR.

No dia seguinte, 6, a Vigilância Epidemiológica entra em contato para preencher todos os dados pessoais e profissionais, questiona se ela mora com alguém, informando que sim e a pessoa era grupo de risco, ele pede para que eu compareça ao UPA, para também colher o exame. Mas chegando lá, após a triagem, o enfermeiro disse que eu não tinha sintomas típicos e não estava autorizada a fazer o exame.

Sigo para minha casa sem exame e sem atendimento médico para minha pressão, que estava 16 por 10. Quatro dias depois, tenho sangramento em minha garganta e dor, corro para o PAM: estou com pressão alta novamente, sou medicada apenas para a dor.

Na terça-feira, dia 12 recebemos o resultado de Edimara: positivo para  Covid-19. Entrei novamente em contato com o prefeito informando, e perguntando se eu poderia fazer o teste, uma vez que sou grupo de risco e moro com uma pessoa que estava com a doença. Ele diz que os testes são apenas para profissionais da área da saúde que apresentam sintomas e pessoas que estejam já em caso de internação.

Nisso tudo, os sintomas dela só estavam se agravando e aparecendo novos, como coceiras, manchas,  tosse com sangramento, fadiga extrema, tonturas. Ela é orientada a buscar um atendimento caso piore, e isso acontece. Chegando ao PAM da Vila Martins, encontramos a mesma enfermeira que nos atendeu da primeira vez.

Lá novamente nos dizem que não temos motivos para estarmos ali pois não temos sintomas típicos da doença e ficam nervosos ao saber que ela testou positivo, dizendo que ela vai contaminar todos ali. Ela consegue atendimento com uma boa médica, que a atende por meia hora e receita mais remédios.

Saímos arrasadas de lá por eu não poder fazer o teste. Fiz uma postagem no Facebook que repercutiu e então, nesta quarta-feira, 13, finalmente fiz o exame, mas não o PCR, o do tipo rápido, e dá negativo. A coordenadora do PAM me chamou e pediu desculpas pelo mau atendimento. Também faço exames de  hemograma completo, urina, raio-x.

Agora estamos em casa, e escrevi este texto para  dizer que temos que lutar pelos nossos direitos,  pagamos nosso impostos, somos cidadãos de bens e merecemos respeito.

Se nós não tivéssemos lutado contra o descaso,  ela seguiria colocando a vida de muitas pessoas em risco e a  sua própria.

Vocês que são informados, divulguem e use todos os meios de comunicação para exigir seus direitos. Agradeço do fundo do coração a toda a comoção que gerou meu post, foi através dele que fiz meu exame.

Agora esperamos que Edimara se recupere desse pesadelo horrível. Essa doença não é brincadeira. Se puder,  fiquem em suas casas, isso pode salvar muitas vidas!

Cristiane da Silva Rodrigues, 27 anos, Atendente de e-commerce

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