Como estamos vivendo nossas vidas?

A era digital trouxe consigo um fenômeno marcante: a explosão das mídias sociais. Plataformas como Instagram, Facebook, Twitter e TikTok têm se tornado espaços onde as pessoas compartilham cada vez mais suas vidas, transformando-se em uma espécie de vitrine digital. No entanto, essa exposição excessiva não vem sem consequências, e é interessante observar como esse excesso de exposição se relaciona com o fenômeno de audiência do Big Brother Brasil (BBB), um programa que, mesmo após 20 anos, ainda atrai uma enorme quantidade de espectadores e consequentemente patrocinadores.

O BBB, em sua essência, é um grande experimento social. Através das câmeras, o público acompanha a vida íntima dos participantes, que por sua vez se expõem de maneira intensa, buscando fama, fortuna ou, simplesmente, os 15 minutos de fama tão almejados. Essa busca pela visibilidade e a audiência maciça do programa podem ser interpretada conforme os conceitos de sociedade líquida, desenvolvida pelo sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman.

Bauman descreve a sociedade contemporânea como líquida, caracterizada pela fluidez e pela superficialidade das relações humanas. Nesse contexto, as mídias sociais se tornam o palco principal, onde as interações são efêmeras e superficiais, baseadas muitas vezes em imagens idealizadas e em busca constante por validação. O BBB, ao expor essa dinâmica em uma escala ampliada, reflete os padrões de relacionamento que permeiam nossa sociedade líquida.

Essa sociedade se baseia no supérfluo, e isto pode ser observado também nas redes sociais. Na busca incessante por likes, seguidores e comentários nas redes sociais, o que pode levar à criação de uma persona virtual, uma versão idealizada de si que muitas vezes não corresponde à realidade. Essa desconexão entre a persona online e a pessoa real pode minar os relacionamentos autênticos, já que a superficialidade das interações digitais dificulta o estabelecimento de vínculos verdadeiros e profundos.

Além disso, a exposição constante nas mídias sociais pode gerar ansiedade, depressão e uma sensação de inadequação, pois as pessoas tendem a comparar suas vidas com as versões filtradas e editadas das vidas alheias. No BBB, essa pressão é ainda mais evidente, já que os participantes estão sob constante escrutínio do público, sujeitos a julgamentos e críticas muitas vezes cruéis.

Diante desse cenário, é importante refletir sobre nossas próprias práticas de uso das mídias sociais e buscar um equilíbrio saudável entre a exposição e a privacidade, entre a conexão virtual e os relacionamentos reais. Somente assim poderemos evitar cair nas armadilhas da sociedade líquida e cultivar relações genuínas e significativas em um mundo cada vez mais digitalizado e superficial.

Erica Gregorio, jornalista, socióloga, escreve periodicamente no seu blog ericagregorio.com

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