Não as deixem só…

O número de pessoas que vemos perambulando pelas ruas, sem rumo, está crescendo a olhos vistos, ninguém pode negar, a cada dia que passa vemos surgir cada vez mais pessoas nessas circunstâncias. 

A definição usada para designar as pessoas em condição de rua considera uma série de fatores como: pobreza extrema, vínculos familiares fragilizados ou interrompidos, a inexistência de uma moradia regular, o desemprego, perda de autoestima, alcoolismo, e ainda o uso abusivo de drogas ou doença mental.

Pode-se afirmar que o surgimento da população em situação de rua é um dos reflexos da crescente e acelerada urbanização  das cidades, gerando  consequentemente, a exclusão social, que a cada dia atinge e prejudica uma quantidade maior de pessoas que não se enquadram no atual modelo econômico, o qual exige do trabalhador uma qualificação profissional inacessível para a maioria das pessoas.

A vida de um morador de rua é uma luta pela sobrevivência diária, seja pela vulnerabilidade física constante, com questões como violência, falta de saneamento básico e higiene, a falta de alimentação, a precariedade e o abandono de uma vida confortável em geral.

É preciso ressaltar que nem todas as pessoas que estão na rua, são moradores de rua, há as pessoas que estão em situação de rua, que são os indivíduos que durante o dia possuem algum tipo de  emprego precário, como flanelinhas, catadores de lixo reciclável, os famosos “bicos”, são  autônomos, como vendedores ambulantes,  ou ainda possuem um trabalho  sem carteira assinada, mas não tem lugar para dormir, e precisam dormir nas calçadas, viadutos, bancos.

Essas pessoas em situação de rua também passam a noite em locais degradados, como prédios e casas abandonadas ou ainda carcaças de veículos, que têm pouca ou nenhuma higiene.

Os moradores de rua são um grupo heterogêneo, isto é, pessoas que vêm de diferentes vivências e que estão nessa situação por razões diversas. Apesar de não ser uma razão predominante, há pessoas que escolhem viver nas ruas, entre os principais motivos estão a violência e o abuso doméstico, ou desentendimentos dentro da própria família. Nesse sentido, há uma falsa ideia de liberdade associada ao ato de viver na rua.

Essa concepção  acaba sendo a razão para explicar não apenas a saída de casa, mas também a permanência na rua. Pesquisas indicam que quanto mais tempo a pessoa passa na rua, menores são as chances de ela conseguir recuperar a autonomia.

Em 2019, havia cerca de 24 milhões de pessoas em condição de rua, em São Paulo, cidade que abriga o maior contingente dessa população no país, 39,2%. Esse número foi agravado pela pandemia de Covid, e pela falta de políticas públicas que fossem capazes de diminuir a situação de vulnerabilidade deste enorme contingente. Em 2021, esse número saltou para mais de 31 milhões, um aumento de 31% em 2 anos.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, em 2000, 8 em cada 1000 pessoas estavam nas ruas. Em 2020, de cada 10000, 26 estavam nas ruas. Dessas pessoas, 72% delas são negras.

O perfil delas também mudou nesses anos, agora vemos também pessoas que foram despejadas de suas casas e que com a atual crise econômica e o alto nível de desemprego, não conseguem ter dinheiro para alugar outro lugar para morar, o que as leva a viver nas ruas, algumas estão com parentes junto, como pai, mãe,  sobrinhos, cunhados, que também perderam tudo e para não ficarem separados preferem passar esse momento de necessidade juntos.

As moradias improvisadas como: barracas de camping ou barracos de madeira em vias públicas  são normalmente ocupadas por famílias ou pessoas que foram para as ruas recentemente, por isso, usam formas de manter a privacidade e aumentar a sensação de segurança. 

Políticas públicas que forneçam somente uma moradia, não é a solução. A demanda dessa população não é por acolhimento, mas sim por um lugar permanente para viver. E não é só isso, essas pessoas  também precisam de ações que as ajude a deixar essa situação definitivamente, como emprego fixo e tratamentos para superar os vícios em drogas ou álcool, ou seja políticas que sejam significativas e que as façam manter uma vida digna e confortável, sem fazer com que elas voltem a viver nas ruas quando estiverem diante de algum desafio.

Érica Gregorio, jornalista, estudante de Sociologia, escreve periodicamente no seu blog ericagregorio.com

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