Oliveira Junior: da glória ao caos
Aquele homem que chegou na Delegacia Central de Itu, na manhã desta quinta-feira, escoltado por policiais, parece fazer parte de um roteiro de filme, em que escreveu com suas próprias mãos um drama envolvendo luxo, poder, futebol, jornalismo, política e crime.
Apresentador de TV com discurso populista, cativou o povo apontando erros no governo do então prefeito Lázaro Piunti, em meados dos anos 2000. Batia de frente, brigava, e logo caiu no gosto da população, que deixava de assistir a novela global das 9 para acompanhar o Programa do Oliveira Junior.
Daí, a entrar na política foi óbvio. Mesmo ocupando o cargo de vice na chapa com Herculano Junior ao cargo do Executivo, a população dizia que o seu voto era, na verdade, para Oliveira.
Cerca de seis meses depois da eleição vitoriosa, em 2005, houve o rompimento e seus funcionários comissionados foram exonerados da Prefeitura. Mas se Herculano tinha a caneta, Oliveira tinha em suas mãos muito poder e muito dinheiro, que misturavam comunicação e futebol.
Ele havia começado como radialista, mas foi como empresário de jogadores que conseguiu seus primeiros milhões. Foi um dos primeiros agentes brasileiros a ser credenciado pela FIFA e responsáveis pela carreira de muitos jogadores consagrados, com destaque para Roberto Carlos, de quem ganhou, recentemente, uma causa judicial.
Ituano
Embora os diretores atuais do Ituano Futebol Clube abominem que se ligue o nome dele ao clube, ele foi responsável por uma trajetória de sucesso do time, que assumiu em 1999.
Em 2001, o Ituano subiu ao grupo de elite e no ano seguinte conquistou o título paulista. Grandes vitórias se sucederam: em 2002 foi campeão da Copa Paulista e em 2003 campeão brasileiro da Série C. Obteve bons resultados também em 2004 e 2005. Em 2006, Oliveira deixou o clube.
Não antes de ganhar muito dinheiro, comprar uma casa no Condomínio Terras de São José e desfilar pelas ruas de Itu com seguranças, motorista particular e carros luxuosos.
O seu declínio começou após o seu júri popular, onde foi condenado por homicídio, em 2015. “Nesta época, ele vendeu a sua casa no Terras, e hoje ele está pobre. Gastou tudo o que tinha com advogados. Quem paga as suas despesas, atualmente, é um irmão”, diz o advogado Flávio Markman. Famoso jurista paulista, diz que os seus honorários hoje em dia são de camaradagem. “Nos tornamos amigos”.
E é esse afeto que faz com que ele tema pela vida de seu protegido. “Oliveira sempre foi polêmico, sempre atacou a bandidagem. Ele tem medo de ir para São Paulo”, afirmou. Na época, Oliveira, havia acabado de ser preso no interior da Paraíba, após um ano foragido, e havia sido levado, após a audiência de custódia, para um presídio de segurança máxima em João Pessoa. Foi de lá que veio diretamente para a Delegacia de Itu, nesta madrugada.
O crime
O ano era 2006. O advogado Humberto da Silva Monteiro estava no banco do passageiro, em que o motorista era o radialista Dantas Filho. Ambos haviam rompido recentemente com Oliveira e trabalhavam para Herculano. Dois homens se aproximaram em uma moto e atiraram. Humberto morreu, sabendo demais.
Uma fonte afirma que o alvo era Dantas. “Era apenas para dar um susto. O Dantas estava o chantageando, inclusive com situações envolvendo mulher”.
Poderia ter sido apenas um crime político dos tantos que ficam sem elucidação. Um corpo, alguns motivos, muito dinheiro.
Mas no meio do caminho havia um promotor, havia um promotor no meio do caminho. Luiz Carlos Ormeleze foi para Oliveira o que Sérgio Moro foi para Lula, com as devidas ressalvas. Foi incansável em suas investigações, em um longo processo que resultou no júri popular de 2015, quando Oliveira foi condenado há 20 anos de prisão.
Hoje, deverá ser levado para Sorocaba e depois para a cadeia de São Roque. A sua passagem por Itu, cidade onde ostentou riqueza e popularidade, tem um simbolismo trágico.
Quem teve um final feliz neste roteiro foi Herculano Passos, que teve, graças ao dinheiro de Oliveira, sua primeira campanha eleitoral de sucesso e continua até hoje na política, com participação atuante em Brasília como deputado federal recém reeleito.
(Texto: Rosana Bueno/Jornal de Itu Foto: Fernando Vitarelli/ITV)
Quando ele me atacava sem dar direito de resposta, eu senti rancor. Depois, o sentimento transformou-se em mágoa. Hoje, sinto pena. A Justiça, depois de dez anos e pouco, deu-me direito de usar dos seus programas televisivos e me defender. Como? Se não existe sequer a TV-Convenção. Oliveira Junior mentiu, ofendeu, me atacou – a mim e à minha família. Não guardo ressentimentos. Repito: só pena. Rogo a Deus lhe dê o perdão pelos seus atos, entre tantos, o mais grave: mandar matar um semelhante. O mal dessa criatura, muito além dos malfeitos disparados contra a Família Piunti, foi o que ele fez contra o povo. Ao querer destruir politicamente a gente, ele elegeu um político nefasto, que dele se aproveitou e fez sucesso afortunadamente na política. Sinceramente sinto tristeza pela decadência do Oliveira Jr. A imagem de farrapo humano contrasta com o perfil orgulhoso e arrogante do passado. Deus dele tenha piedade.