Suicídios aumentam entre jovens; saiba como ajudar e ser ajudado
O cinza toma conta das emoções de muitos jovens. Enquanto os adultos próximos não sabem como agir e têm uma tendência a minimizar a dor dos que expressam suas feridas emocionais e físicas, eles se sentem vazios e sem motivos para seguir em frente.
Os dados sobre o assunto são um tabu pois, conforme a abordagem da divulgação das mortes, acredita-se que possa despertar um gatilho nos que já estão vulneráveis, mas uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) mostra que taxa deste tipo de ocorrência entre adolescentes aumentou 24% entre 2006 e 2015.
Sim, nós precisamos conversar sobre isto! Sete pesquisadores da Unifesp utilizaram dados do SUS (Sistema Único de Saúde), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Coeficiente Gini (que mede desigualdade).
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A pesquisa indica que a chance de um adolescente do sexo masculino tirar a própria vida é até três vezes maior do que uma adolescente mulher. Para outro autor do estudo, o professor de psiquiatria da EPM Jair de Jesus Mari, “os meninos têm menos habilidade em lidar com o sofrimento emocional causado pela depressão”. Além disso, diz Asevedo, as meninas procuram ajuda mais cedo e com mais frequência.
A internet mata?
Um dos novos riscos para o suicídio adolescente é o uso da internet. Mari afirma que “Facebook, WhatsApp e Instagram aumentam a exposição ao ciberbullying assim como o compartilhamento de comportamentos disfuncionais, como divulgação de métodos de suicídio e minimização dos perigos da anorexia”.
Asevedo lembra casos como o jogo da baleia azul, uma fake news que fez sucesso em 2017 ao estimular comportamentos como automutilação e suicídio. “Quando fomos analisar as buscas no Google, notamos aumento nas pesquisas sobre como se matar. O efeito é muito maior que as campanhas de internet para prevenção ao suicídio.”.
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Para os autores, o Estado também é responsável pelo aumento dos suicídios no Brasil em um tempo em que as taxas caem ao redor no mundo. “A ciência sabe como reduzir as taxas. A questão é implementar”, acredita Asevedo.
No Brasil isso não foi identificado como prioridade porque ainda há muito estigma quanto à saúde mental. ‘Ah, depressão é fraqueza, falta de caráter, de fé. Vai trabalhar’, é o que dizem. Esse estigma não permite que as ações de prevenção sejam amplamente realizadas pelos gestores, o que dificulta a alocação de recursos.
Nova lei antimutilação
Foi sancionada na última sexta-feira (26), a Lei nº 13.819 , que institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. O texto estabelece um pacote de medidas que visa minorar os casos de violência autoprovocada, ou seja, as tentativas de suicídio, os suicídios consumados e os atos de automutilação.
A lei estabelece que as escolas, tanto públicas como privadas, notifiquem aos conselhos tutelares toda suspeita ou ocorrência confirmada envolvendo violência autoprovocada. As unidades de saúde, por sua vez, ficam obrigadas a reportar os episódios às autoridades sanitárias. Com essa medida, o governo federal pretende manter atualizado um sistema nacional de registros detectados em cada estado e município, para que possa dimensionar a incidência de automutilação e suicídio em todo o país.
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O pacote de ações previsto na lei inclui ainda a criação de um canal telefônico para atender a pessoas que estejam passando por um quadro de sofrimento psíquico. Os usuários poderão utilizar o serviço de forma gratuita e sigilosa.
A execução das ações será coordenada pelo Ministério da Família e dos Direitos Humanos, por meio do Grupo de Trabalho de Valorização da Vida e Prevenção da Violência Autoprovocada por Crianças, Adolescentes e Jovens, criado especificamente para esse fim. O objetivo é estruturar, em âmbito nacional, uma articulação de prevenção ao suicídio e à automutilação de crianças, adolescentes e jovens foi uma das metas prioritárias dos primeiros 100 dias do atual governo federal.
Somente entre 2007 e 2016, foram registradas, no Brasil, 106.374 mortes por suicídio, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde, divulgado em setembro do ano passado. No período analisado, constatou-se um aumento de 16,8% no total de ocorrências. Entre homens, o aumento chegou a 28%.
F otos: Divulgação