Trabalhando de sol a sol…
A sensação térmica deve ser de 40 graus. Na segunda-feira, 12h30, ele estava ali, debaixo do sol. Paro no semáforo e ele me aborda: “uma balinha para adoçar o primeiro dia da semana?”. Diante da sua simpatia, começamos a conversar nos breves momentos que antecedem a abertura do sinal na rotatória da Avenida Caetano Ruggieri, próximo ao Parque do Varvito.
Com a pele visivelmente queimada, ele diz que está acostumado, e não reclama do sol nem do calor. Me conta que pedia dinheiro na Rodoviária e um policial, que não lembra o nome, o aconselhou a vender em vez de pedir. “Ele me comprou o primeiro pacote e eu gostei, peguei o jeito. Nunca mais pedi!”. Dá pra tirar um dinheirinho? “Média de 50, 70 reais por dia”, conta, animado. Vanderlei é seu nome, me diz enquanto sigo o tráfego após a entrevista improvisada.
Na quinta-feira, às 7h, elas já estão lá, começando a trabalhar. O destino é o início da Rua Tocantins, bairro Liberdade. O sol que tem sido implacável nos últimos dias ainda não avançou sobre aquela área mais baixa da cidade, mas elas estão preparadas para o que virá: calça, camisa de manga longa, boné com abas laterais. Mas os rostos tem o bronzeado dos que não escolhem o sol, mas necessitam enfrentá-lo na função de varredoras de rua.
Idalina trabalha há quatro anos limpando as ruas da cidade, e diz que esse verão tem sido o mais intenso, mas é preciso aguentar. “Ganhamos cerca de mil reais, e mais 600 de vale alimentação, mas se faltar já perde metade”, conta ela, por isso nem pensar em descansar debaixo da sombra. “O fiscal vê e a gente leva advertência”.
Elas carregam junto ao carrinho apenas uma garrafa de água. Mas esquenta, né? “As vezes pedimos em alguma casa, mas tem gente que não dá, ou dá da torneira. Nem cachorro toma!”, reclama Idalina Leal. Ela diz que apesar do trabalho ser puxado, aos 50 anos ela precisa trabalhar para pagar aluguel. “Fiquei viúva há 7 meses e não tenho filhos, não tenho ninguém…”
Lúcia Aparecida Rufino, 48 anos, tem seis filhos, cinco moram com ela. No total, são 8 pessoas na casa, e apenas ela e um filho trabalham. “Um filho está doente, com anemia falciforme, então a irmã não pode trabalhar para cuidar dele. Meu genro só faz bico e os outros estão desempregados”. O dinheiro que ganha de sol a sol é fundamental para o sustento da família, explica ela, com o sorriso largo e claro que contrasta com a cor da pele, morena e bronzeada. “Passamos protetor e pedimos força pra Deus, não tem nada mais o que fazer…”
(Texto e foto: Rosana Bueno)