Bebês Reborn: realismo que gera  emoção e controvérsia

Os bebês reborn são bonecos hiper-realistas criados para se parecerem ao máximo com recém-nascidos humanos. Produzidos artesanalmente, esses bonecos são feitos com materiais como vinil e silicone, e recebem detalhes minuciosos, como veias, unhas, manchas de pele e até fios de cabelo implantados um a um. O resultado impressiona pela semelhança com um bebê real — ao ponto de, muitas vezes, confundirem observadores desavisados.

O movimento reborn começou nos Estados Unidos e na Europa por volta dos anos 1990, mas ganhou força global com a ajuda da internet e das redes sociais. Hoje, há uma grande comunidade de artistas, colecionadores e admiradores desse tipo de boneco em diversos países, inclusive no Brasil.

Mais do que simples brinquedos, os bebês reborn são, para muitos, objetos de afeto e companheirismo. Algumas pessoas os utilizam como forma de terapia emocional, especialmente em casos de luto, depressão, solidão ou dificuldades ligadas à maternidade. Em asilos e centros de cuidados com idosos, eles também são usados em terapias para estimular memória e afetividade, com resultados positivos.

Por outro lado, o uso dos reborns também gera críticas e debates. Especialistas alertam para o risco de um apego exagerado, que pode indicar a fuga da realidade ou a substituição de vínculos humanos por objetos. Além disso, a humanização extrema desses bonecos levanta questões sobre como a sociedade lida com temas como maternidade, perda e saúde mental.

A popularização dos bebês reborn gerou debates que vão além da estética ou do uso terapêutico: ela expôs questões profundas sobre gênero, afeto e o julgamento social. Por que colecionadores homens de super-herois ou itens nostálgicos são vistos com naturalidade, enquanto mulheres que cuidam de bebês reborn são frequentemente taxadas como desequilibradas ou “loucas”? Essa diferença revela um viés cultural que desvaloriza o que é associado ao feminino, especialmente quando envolve expressões de afeto, cuidado ou desejo pela maternidade.

 Mais do que um simples hobby, a relação com os reborns pode simbolizar a tentativa de lidar com emoções complexas, como a perda, a solidão ou a vontade de maternar — sentimentos que, quando mediados por um objeto feminino, acabam sendo tratados com preconceito. O debate, portanto, não se limita às mulheres, mas amplia-se para uma crítica sobre como a sociedade interpreta o desejo e o afeto quando eles se manifestam fora dos padrões esperados.

Apesar das controvérsias, os bebês reborn continuam atraindo a atenção de pessoas de todas as idades, seja pelo valor artístico, pelo potencial terapêutico ou simplesmente pela curiosidade. Eles mostram como o ser humano busca formas diferentes de lidar com emoções profundas e como a arte pode servir tanto para expressar sentimentos quanto para curar feridas invisíveis.

Érica Gregorio, jornalista, socióloga, escreve voluntariamente para esse site e em seu blog ericagregorio.com

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