O ataque em uma escola no Paraná e a saúde mental dos jovens
No dia 19 de junho, recebemos a notícia de mais um ataque em uma escola. Dessa vez, realizado por um ex-aluno, um jovem de 21 anos, que justificou ter cometido o crime por vingança pelo bullying que sofreu no passado, nesta mesma escola.
Mas, o que é bullying, afinal?
O termo bullying se refere a atos de violência física ou psicológica, geralmente ocorridos em ambiente escolar. A vítima geralmente é alguém com características que a diferenciam da maioria. Tais atos incluem agressões físicas e verbais, ameaças, comentários, apelidos pejorativos, entre outros. Ocorre de forma rotineira e persistente, quando um jovem (ou grupo de jovens) persegue um ou mais colegas. O termo cyberbullying diz respeito às mesmas situações, porém enfrentadas pelo jovem no mundo virtual.
É importante ressaltar que quaisquer situações de violência física ou psicológica podem causar inúmeras consequências negativas em saúde mental. No caso do bullying, desde baixo desempenho escolar, isolamento social, desenvolvimento de crenças negativas sobre si mesmo e sobre o mundo, baixa autoestima e até transtornos mentais como depressão e transtornos de ansiedade. Vale ressaltar também que, como muitos dizem por aí, bullying não é apenas “uma brincadeira entre os jovens”. Existe uma grande diferença entre “brincadeira” e violência física ou psicológica. No primeiro caso, ela é consentida e aceita; no segundo caso, ela é imposta, persistente, agressiva e violenta. Quando uma brincadeira passa a não ser mais aceita pelo outro, deixa de ser uma mera brincadeira.
É preciso que pais, família, escola e comunidades em geral ensinem crianças e jovens a respeitarem o outro, a respeitarem a diversidade e a praticarem aquela conhecida frase, cujo autor desconheço, que diz que a “nossa liberdade termina onde começa a liberdade do outro”. Famílias, escolas, comunidades (inclusive religiosas), que têm responsabilidades sobre crianças e jovens, devem (com muita urgência) criar espaços para discussão e desenvolvimento de habilidades socioemocionais como autoconhecimento, regulação emocional, empatia, habilidades interpessoais, entre outras, além do, tão importante quanto, desenvolvimento de valores éticos como o respeito à diversidade. E quando falamos em respeito, temas como sexualidade, identidade de gênero, diversidade religiosa, diversidade racial e inclusão (entre outros) não devem estar de fora. O preconceito e a discriminação, em suas diversas facetas, só serão combatidos por meio do conhecimento.
Quando falamos em crimes como o do dia 19 de junho, o bullying parece ser, quase sempre, a principal causa deles, segundo a justificativa dos jovens que os cometem. No entanto, crimes como esses têm causas multifatoriais, e não isoladas, das quais podemos considerar desde os fatores hereditários/genéticos até os fatores ambientais, como a qualidade das relações e estrutura familiares (a educação recebida e a qualidade dos vínculos afetivos), experiências gerais da infância/adolescência, fatores socioeconômicos e culturais (incluindo aqui os diversos tipos de preconceitos).
Nossa personalidade, identidade e saúde mental são desenvolvidas e fortemente influenciadas pelos mais diversos âmbitos de nossas vidas. É preciso que ações para o desenvolvimento da saúde mental do jovem seja realizada, com muita urgência, em todos esses âmbitos. A formação profissional do jovem, apesar de muito importante, não deve, de maneira alguma, como muitas vezes vemos por aí, ser a única ou a principal preocupação de pais, famílias e educadores.
Para um futuro melhor e mais saudável, precisamos desenvolver e educar jovens éticos e emocionalmente saudáveis.
Dinorá de Paiva Anastacio
Psicóloga da infância e adolescência
CRP: 06/88549
Instagram: @dinorapsicologa