Dias das Mães: elas contam suas histórias

As mulheres sabem bem: quando aquele serzinho começa a crescer dentro de você, na parte de fora começam também as sugestões do que você deve fazer, do que não deve fazer, julgamentos do se você é jovem, se já é considerada velha, se mima demais, se é severa demais, entre tantos outros.

Mas enquanto a sociedade romantiza, anualmente, o papel de mãe, com flores e afins, ela também julga diariamente estas mesmas mulheres, e uma das críticas comuns é àquelas que tenham vários filhos. O que era muito comum antigamente, não se justifica hoje em dia, com métodos contraceptivos, e com a mulher tendo que trabalhar fora para ajudar a manter a casa.

Se esta mulher não tiver condições financeiras favoráveis, o julgamento é ainda mais severo. Se tiver quatro filhos e receber Bolsa Família? Pois é essa mãe é uma das que nós vamos homenagear hoje.  A “Geni” das mães, parafraseando a música de Chico Buarque. Cheyenne Felix, 25 anos, é mãe de Lorraine, 8, Davi, 5, Kauã, 4 e Ana Livia, 3. Antes de julgar, conheça a história dela.

Aos 16 anos, após um ano de namoro, ela ficou grávida pela primeira vez. Quando Lorraine estava com pouco mais de um ano, foi morar junto com o rapaz, pai de todos seus filhos. Após um tempo, quis dar para a filha um irmão. “Eu tive vários irmãos e queria dar um para ela”, recorda. Para ela, dois filhos já estavam suficientes. Sempre trabalhou fora e lutou para sustentar as crianças. Tomou um susto ao descobrir a terceira gravidez, que aconteceu mesmo ela tomando anticoncepcional.  Com Kauã, não planejado, veio a depressão pós-parto e quando ele estava com apenas três meses ela engravidou novamente de Ana Livia. Ela rejeitou esta gravidez e escondeu de todos, inclusive no trabalho e da família. Pensava em chegar ao hospital e deixar a filha lá, já era bem difícil cuidar de três: a rotina, as contas, o aluguel e um emocional e físico exaustos.

“Eu fui fazer pré-natal apenas em fevereiro, ela nasceu em março. E quando isso aconteceu, foi para a UTI, e uma médica me disse que a culpa era minha. Daí eu aceitei que precisava cuidar dela, igual havia cuidado dos outros, que eu a queria bem e a aceitava”, conta. Hoje é super apegada na menina. Mas quem a vê andando por aí com seus quatro pequenos não sabe quanto os julgamentos a machucam, mas os dos mais próximos são os que mais doem.

“Meu ex-marido, do qual me separei há dois anos, me dizia que eu tinha que aceitar ficar com ele pois ninguém ia querer alguém com quatro filhos”, diz, contando que após a separação melhorou sua autoestima e resgatou seu amor próprio. “Eu achava que não ia dar conta de cuidar deles sozinha, mas foi melhor, comecei a me cuidar mais”, diz. Ela chegou a retornar a trabalhar, ficou mais de um ano em uma empresa de telemarketing da cidade, mas recentemente foi demitida. “Eu pagava para cuidarem deles, pois era pandemia, não tinha onde deixá-los, mas a babá faltava e eu tinha que ficar em casa”, conta. Os desafios são grandes. “Em uma entrevista de emprego, quando descobrem que você tem quatro filhos, o foco já muda, só querem saber como você vai conciliar a maternidade com o trabalho. As pessoas julgam, acham que você é desleixada, dói muito tudo isso”.

Mas o amor vai muito além dos preconceitos. “Perdi minha mãe quando a Lorraine tinha dois anos, então hoje meus filhos são meu alicerce na vida. A Lorraine parece ser mais velha, ela percebe quando não estou bem, pergunta se preciso de ajuda. Eles me abraçam o dia todo, dizem que me amam, me dão um amor que eu nunca tive de ninguém. Por eles eu encontro forças para lutar e enfrentar o mundo…”.

(Na foto, ela está com os filhos (é a de calça jeans) e com a irmã.)

Sorte: duas mães

Michelle Berfio, 37 anos, sentiu despertar a vontade de ser mãe ao acompanhar a gestação da sobrinha, filha de sua irmã. Conversou com sua companheira, Cássia Fernanda, e oficializaram o relacionamento com o objetivo de entrar no Cadastro Nacional de Adoção.

O processo de fertilização, por ser caro, não era uma opção, mas um colega de trabalho falou que a primeira consulta em uma clínica, de Santo André, era gratuita. Ela resolveu ver como era e fez todos os exames, que mostraram que com ela estava tudo certo para gerar vidas.

Michele optou por auxiliar outras pessoas neste sonho e doou óvulos para mães que não tivessem os seus saudáveis. Com isto, ela ganhou desconto de metade do valor do tratamento.

O processo foi um sucesso, e dois embriões foram fecundados, gerando Estevão e Luna, que há quatro anos chegaram. “Foi tudo muito incrível, na creche quando fomos matriculá-los a recepção foi super positiva, não sofremos nenhum preconceito, todos sabem que eles tem duas mães. Nas duas famílias, eles são o xodó”, conta.

As crianças terão direito de saber quem foi o doador, e biologicamente, seu pai, quando tiverem 18 anos. “Eles terão acesso à origem deles, se quiserem, mas nós sabemos algumas características, como tipo sanguíneo”.

E finaliza: “A maternidade não vem com receita, mas vale cada choro, cada lágrima… Estamos muito felizes!”

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