Uma mulher de princípios

– Quando amam, as mulheres põem algo de divino no amor, e esse amor é como o sol que anima a natureza.                                    

Plutarco – filósofo e historiador grego

Uma singela homenagem às mulheres.

O autor    Éden A. Santos                                                                  

Primeira Parte

                                                                        I

            Sasha nasceu numa fria madrugada de inverno. Seu parto foi através de uma cesariana. O casal de russos, naturalizados brasileiros, não pretendia ter mais filhos, de modo que, por ocasião da cesárea, foi feita a esterilização da dona Vládiva. Sasha era a sétima de uma prole de outros seis irmãos. Eram eles: Ivan, o primogênito, Yuri, Igor, Dimitri, Nikolai e Serguei com quem mais tarde viria a ser entre todos os irmãos, o preferido, certamente pela pouca diferença de idade. Loirinha de olhos extremamente azuis – herdados de seu pai e que lhe davam um olhar penetrante, conferindo-lhe certo ar austero e um tanto misterioso – que emolduravam seu rostinho. O bebê se mostrou desde cedo que seria uma linda mulher. Não se sabe se pela convivência com seis irmãos homens ou se porque estava no seu DNA, Sasha, na medida em que foi crescendo, apesar de bonita e vaidosa, tinha em muitos momentos lúdicos próprios da idade, participação nos jogos dos meninos ao lado de alguns dos seus irmãos e amiguinhos. Nas peladas de rua em que participava como protagonista, contrariando o que os meninos desejavam, ela não ia para o gol, posição que para eles era mais ou menos passiva e própria para personagens que se poderia dizer inexpressivos, ou pernas de pau. Ela queria jogar na linha de ataque e não só sofria faltas como as fazia com a mesma virilidade dos companheiros e dos adversários. Não foi uma, nem duas vezes, que chegava em casa, suarenta, com as canelas cheias de hematomas. Sua mãe nunca colocou em dúvida sua feminilidade, mas a aconselhava brincar com as vizinhas de sua idade. Aquilo tudo, entretanto, era muito enfadonho e um martírio para seu espírito inquieto. Frequentemente sua mãe, já no lusco-fusco do dia, nas férias escolares, ia até o portão e gritava “Sasha, vem para o banho, filha”! E ela ou ignorava ou simplesmente respondia “Já vou”. Enquanto seus irmãos continuavam na pelada, ela não desistia.

            Assim cresceu a menina Sasha, diminutivo de Alexandra – cujo nome o velho Mikhail gostava de proclamar significava “defensora da humanidade” – até sua adolescência, após a qual efetivamente começou a ter uma atitude e um sentimento mais feminino. Sua maquiagem sempre foi discreta. Sua beleza dispensava qualquer artifício para aprimorar o que a natureza gratuitamente lhe dera. De outra parte aquilo que em outras mulheres poderia ser um fator depreciativo, em Sasha era um detalhe a mais, a destacar sua beleza: as sardas no rosto e no colo, distribuídas na sua pele clara e aveludada. Sua silhueta não parecia ser de uma descendente de eslavos. Aos dezesseis já se insinuava um corpo curvilíneo, com ancas harmoniosamente combinadas com um par de pernas bem torneadas que serviam de suporte para um tronco ereto, portador de um par de seios bem delineados. As maçãs do rosto adornavam uma boca com lábios sedutores e um nariz levemente aquilino que davam a impressão de uma personalidade forte e altamente independente. Sua beleza é o que se poderia dizer simétrica, expressão utilizada pelos filósofos para identificar o belo num só olhar.

Revisora: Maria Encarnação Sucasas Costa

(A partir deste domingo, semanalmente, o Jornal de Itu publica este romance por capítulos. Acompanhe os próximos capítulos )

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