Discernimento, que falta faz!

Na economia do nosso país qualquer avaliação que se faça neste momento a respeito da situação das empresas brasileiras, é um tiro no escuro ou um ato de prestidigitação, o que, certamente não faz parte de uma análise séria. O futuro apresenta-se extremamente obscuro para as empresas grandes ou pequenas.

Todavia, é sabido que as grandes organizações têm mais fôlego – leia-se caixa, produtos, tecnologia e histórico, entre outros – para suportar crises como a que atravessamos. As micros e pequenas empresas, que lutam com o infortúnio permanente da falta de capital, estão e estarão enfrentando, na sua maioria, enormes dificuldades para sua sobrevivência. No presente e no futuro próximo.

Por que isso é inevitável? Seguramente, em primeiro lugar, a falta de capital de giro. Um segundo ponto é a falta de profissionalização dos seus quadros. O terceiro, é a indiscutível verdade de que o micro e pequeno empresário, em boa parte, não abre mão de decidir, orientar e encaminhar os seus negócios, afinal eles são a sua vida e sua alma.

Examinemos essas questões cruciais. Por mais que os inúmeros governos do país, sem distinção de ideologia, a partir de 1988 (mesmo nos governos militares), tenham criado com as mais variadas siglas, programas de acesso a recursos financeiros, a complexidade da burocracia secular do Brasil dificulta esse acesso, e o desânimo toma conta do ambiente desde sempre. Continuemos! O SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) num trabalho hercúleo tem buscado treinar e aprimorar modelos de gestão para essas empresas.

Mas, para se ter idéia da imensidão desse universo, temos no Brasil mais de 6 milhões dessas organizações, com muitos empresários relutantes e na maior parte das vezes mais preocupados com a folha de pagamento, tributos e fornecedores, do que com treinamento, especialmente se a proposta é a de mudança do seu “status quo”. Ora, se é até compreensível que o micro ou pequeno empresário não abre mão da gestão do seu negócio, vale dizer que hoje ele dispõe de pelo menos dois recursos que estão literalmente à sua mão: o celular e o tablet.

Através desses pequenos  aparelhos – em comparação  pequenos  se comparados a um torno ou a uma vitrine, por exemplo – ele pode ter acesso a técnicas que poderiam ajudá-lo na gestão do seu negócio. Fluxo de caixa, controle de contas a pagar e a receber, folha de pagamento, entre outros, são instrumentos acessíveis a custo zero. Um jovem aprendiz pode manuseá-los com a habilidade que lhe é peculiar, dando à micro ou pequena empresa recursos modernos de gestão.

Não se pode mais aceitar, diante de tanta tecnologia gratuitamente disponível, que ainda se faça controles na ponta do lápis método totalmente inadequado para o momento em que crianças trafegam nas redes sociais ou nos jogos eletrônicos com facilidade de pasmar. A análise ora formulada é apenas um lado da complexa materialidade da micro e pequena empresa, mas deixa claro que é necessário, urgentemente, ir de encontro a esse universo.

O governo tem buscado desesperadamente encontrar meios de conter ou minimizar os efeitos danosos do desemprego. Por que, então, não facilitar o acesso a linhas de crédito, para uma razão que vem sendo subestimada?

No ano de 2019, segundo o CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho), as micros e pequenas empresas criaram no país mais de 731.000 vagas de trabalho, enquanto isso, no mesmo período, as grandes organizações fecharam mais de 88.000 vagas.

É preciso dizer algo mais a respeito de prioridades? Parafraseando o que disse no início, não se dará um tiro no escuro, mas com um, apenas um, matar dois coelhos.

  • Éden A. Santos

Escritor, pequeno empresário e ex-professor universitário

edensantos@uol.com.b

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