Cultura de cancelamento: o que você acha sobre isso?

Começamos neste domingo uma série de reportagens especiais em que iremos sempre ouvir a opinião dos jovens sobre assuntos que estão sendo discutidos.

Para começar, iremos falar sobre a cultura do cancelamento. Se você não sabe o que é ou ainda não ouviu falar, trata-se de  ignorar  as pessoas por terem opiniões polêmicas.

O termo foi eleito a palavra do ano em 2019 pelo Dicionário Macquarie. Diversas pessoas, famosos, marcas e políticos foram “cancelados” por agirem de forma irresponsável ou por fazerem comentários considerados inadequados em entrevistas ou nas redes sociais. Na prática o cancelamento é quando alguém perde seus seguidores, patrocínios e recebe “hate” em suas redes sociais.

Para a ativista e advogada Susley Fernanda Silva Rodrigues a cultura do cancelamento “nada mais é do que a nova vestimenta da vingança, só que com mais força, maior espaço e maior poder de aniquilação.”

Para ela, isto não auxilia na reflexão. “Eu acredito que muita gente tem medo de expor quem é e o que pensa por medo do cancelamento, porém, o fato de não expor, não significa não pensar, não significa não ser. O cancelamento, ao contrário da militância, tira o direito à reconstrução, ao aprendizado. Essa cultura da vergonha destrói pessoas e não pensamentos. Ações e comportamentos ruins precisam ser tratados e desconstruídos, e no momento em que esse direito é ceifado, perde-se também a oportunidade de construir algo melhor a partir daquele erro.”

Ouvimos ainda quatro jovens que contam o que eles acham sobre a cultura do cancelamento e como isso afeta o seu cotidiano.

Para Wolmer de Jesus Santana, 19 anos, o cancelamento não é eficaz, pois “ainda terão pessoas que as seguem e que são coniventes com os ideais que eles passam e defendem.”

Ele acredita que esta cultura acaba inibindo as pessoas de exporem seus pensamentos. “Temos a liberdade pra pensar e defender os ideais que possuímos, e acho que cancelar em redes sociais não é algo tão válido, porém vejo todo sentido em quem faz, são pensamentos retrógrados muitas vezes, apesar de não achar legal a forma que é feita o cancelamento. Pois às vezes acaba dando muito mais ibope e mais fama ainda a pessoas com tais posicionamentos. Eu mesmo me policio para não opinar sobre assuntos polêmicos com medo de ser cancelado”, confessa.

O cancelamento também não é algo bacana: essa é a opinião de Mihael Yuri Costa, 18 anos.“Um dos maiores males da sociedade é a hipocrisia, e é isto que acontece, muitas vezes, com o cancelamento. As pessoas tem o direito de se expressar, e se for algo errado é preciso mostrar os motivos do erro e não simplesmente cancelar e fingir que ele não existe”.

Em um mundo em que as pessoas são julgadas e avaliadas virtualmente, ele acredita que as pessoas camuflam algumas ideias ou expõem outras, de forma radical, como um ato de rebeldia. “ Isso gera um problema porque esse medo das pessoas se expressarem acaba gerando algo que não evolui, afinal a evolução vem das críticas e se isso não existe acaba-se tendo algo monárquico e ditatorial. “

Ele nunca cancelou ninguém, e diz que nunca imaginou ser cancelado mas “não ligaria tanto afinal, defendo minhas ideias, valores e princípios a menos que me provem o contrário.”

“O conceito é interessante, porém, já saturou e muitas vezes acaba sendo utilizada de forma errônea. Como no caso de Emmanuel Cafferty, onde o mesmo acabou sofrendo o cancelamento por uma interpretação errada do delator”, lembra  Vinicius Ramalho Alves Ferreira, 19 anos.

Ele acredita que muitos influenciadores tem medo de opinarem e serem cancelados, mas ele nunca teve esse receio. Já aconteceu de cancelar alguém? “Sim, ajudei quando senti empatia ou me vi representado pela causa”

 Bianca Caroline Granado, 20 anos, já sentiu como é ser cancelada. “Pude perceber o quão fui irresponsável e aprendi que a troca é muito importante: tudo bem as pessoas terem opiniões diferentes da minha”

Ela acredita que expor a opinião e debater é importante para a sociedade, porém é preciso aceitar os princípios dos outros, mesmo que sejam diferentes do seus. “As pessoas já tendem ao silêncio quando tratamos de assuntos que dividem as opiniões, com a cultura do cancelamento é explicito que algumas pessoas sintam-se coagidas a não expressarem alguns pensamentos e crenças. “

 Em contrapartida esse medo torna-se um ponto positivo, pois é normal que haja um cálculo do que pode e não pode ser dito, ajudando a melhorar a forma de expressar e evitar constrangimentos… 

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(Fotos: Arquivo Pessoal Texto e entrevistas: Rosana Bueno/João Vitor Galvão)

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