Santa Casa de Itu: passado, presente e futuro

Como profissional da Santa Casa há 25 anos, eu venho aqui explicar a real situação do local e sua trajetória nos últimos anos.
Desde a passagem da Intervenção da Santa Casa, pelo governo do Estado, para uma instituição terceirizada fazer a gestão, a primeira foi Sanatorinhos, houve a intenção do fechamento do Pronto Socorro que ali funcionava. Fato ocorrido em 2002.
Em 2005, pela primeira vez, há um contrato de prestação de serviços em que a Prefeitura contrata e assume gastos com o Pronto Socorro Adulto e Infantil que funcionava no Hospital. Até então o PS era custeado com verba do Estado, convênios e particulares.
Em 2016, o São Camilo consegue o fechamento do local. E porque isso? Para a Instituição São Camilo, não interessa mais o Pronto Socorro dentro do Hospital, pois por políticas da empresa, esse setor não era atrativo em termos de custo benefício e gerava uma porta de entrada não planejada e que gerava um custo hospitalar espontâneo que superava o teto que o Estado repassava e isso era prejuízo.
O São Camilo tentou renovar o contrato, mas a Prefeitura desprezou a maior parte de ofertas e disse que assumiria os serviços de “urgência”. Vale destacar que hoje os cofres municipais tem uma despesa três vezes maior.
Com o fechamento do PS, a Prefeitura perde toda sua influência de contratante no Hospital e fecha-se uma porta de entrada de todos munícipes ao hospital de forma espontânea, passa tudo a ser controlado via vaga CROSS, mas nesse 2016, até a UPA (que foi inaugurada sem poder funcionar) ser viabilizada, um Pronto Socorro bem mal adaptado funcionou num Posto da Ernesto Fávero.
A única porta aberta aos cidadãos ituanos era a Maternidade. Na verdade, o PS nunca fechou, só continuou funcionando aberto para convênios e particulares, mas com controle para o SUS, ou pacientes do SUS. Com isso, São Camilo esperava equacionar o Hospital e distancia-se a cada dia das necessidades da municipalidade, na prática só abria as portas para o que queria e o fim da linha, ou até mesmo por “carteirada”.
Devido a uma conjugação de fatores e péssima gestão desde 2017, o São Camilo, mesmo limitando o SUS, mesmo não oferecendo serviços que ele não considerava rentáveis e só recebendo casos via CROSS da UPA e do PAM, caminhou para o desastroso desfecho. Em nenhum desses momentos a Municipalidade conseguiu retomar as conversas e retomar os serviços lá prestados. Município e Santa Casa com gestão do São Camilo pareciam dois sistemas de saúde distintos.
São Camilo, quando adota suas políticas institucionais e se distancia do município, investe em leitos que dão rentabilidade ao Hospital e fecha leitos que dão prejuízo. Na prática, reduziu muito leitos clínicos e de algumas especialidades cirúrgicas e investiu em UTI, Hemodinâmica e em Oncologia. Trouxe até um IBCC (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer) para cá, mas devido má gestão, fechou sem ninguém perceber.
Em 2020, o Golpe Final. São Camilo sai e….? Entra como “tampão” uma instituição, INCS que firma contrato com Prefeitura, a qual “tomou” o prédio do Hospital para garantir o atendimento.
Com uma desastrosa transição, São Camilo, deixa na “mão” 850 funcionários e “judicializa” a situação para ganhar tempo e cria caso com a Prefeitura, Estado, Irmandade, como se não fosse o responsável pelos funcionários. Desses 850 não demitidos de forma correta, não puderam ser recontratados de imediato, pois o INCS temia herdar ações trabalhistas.
Mais uma catastrófica administração da INCS, iniciada em novembro de 2020 e encerrada em abril de 2021, e mais uma “judicialização” e mais uma vez funcionários sem receber!
Médicos não recebem os plantões de fevereiro e março. Funcionários tem, segundo a Justiça do Trabalho, até dia seis de maio para receber, caso não haja alguma manobra jurídica.
Enfim, o Hospital está sem permissão para atender as carteiras de Convênios, não pode atender particular. Só a Maternidade continua com portas abertas, mas trabalhando sem condições ideais e desrespeitando muitas normas do Ministério da Saúde, pois, por exemplo, não consegue nem oferecer analgesia de partos de forma corriqueira às gestantes.
O CC que funcionava com seis salas, sendo cinco eletivas e uma para urgência, chegou a fazer em bons tempos em torno de 680 cirurgias por mês. Mesmo na Pandemia o Centro cirúrgico mantinha um bom fluxo, atualmente funciona apenas com uma sala, as vezes tem funcionários e materiais para duas.
O prognóstico é reservado nesse momento, pois uma nova empresa, a Irmandade de São Bernardo do Campo, entra, mas com várias pendências deixadas e não conseguirá recuperar o tamanho do Hospital em médio prazo (dois anos).
O Hospital Municipal cobre em torno de 30% do que a Santa Casa fazia e não conseguirá suprir as demandas em curto e médio prazo.
Enquanto os impasses e os imbróglios jurídicos não forem resolvidos, deixamos de ter um Hospital Santa Casa que já foi um dos mais importantes da DRS de Sorocaba, tem vários serviços que eram de alta complexidade, tem uma UTI Neonatal de referência Estadual.
E as expectativas não são das melhores…

  • André Tabarassi, ginecologista e obstetra

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